19 de dezembro de 2006
Recomendo
Quem vem aqui atrás de ficção e sai decepcionado (me falta tempo, pessoal), recomendo a leitura de "A Ilha", no Bobagêra, de Carlito Costa. Coisa de primeira. Vai lá!
18 de dezembro de 2006
Videozinho
Lauro Maeda fez um vídeo/slide show da velejada de que falo dois posts abaixo. Clique aqui para ver (executável - 15 MB). Observem a esteira deixada pelo Gostosa com o vento batendo de popa. Nunca tinha surfado com ele, mas se mostrou um barco bom para isso. Agora, com as funções de final de ano, só em 2007. Amigos proeiros, até lá!
[Ouvindo: Roberto Carlos - Por Isso Corro Demais - Em Ritmo de Aventura]
13 de dezembro de 2006
Bíblias
Religião não é meu forte. Nem meu fraco. Não dou bola para religiões. Mas tenho alguns livros "santos" na minha vida. Histórias de Cronópios e de Famas, de Julio Cortázar, é um. Outro é Manual de Vela, da Federação Espanhola de Vela. Mas ontem comprei mais um título que será minha bíblia por um bom tempo, pelo menos um ano e meio: Catálogo de Peças - Puma GTE-GTS 1970 a 1975. Havia achado esse catálogo por R$ 90,00 mais o frete no Mercado Livre. Mas pelo Orkut, na comunidade de pumeiros, recebi a dica de um paulista que vende o mesmo material por um preço mais camarada. Vai custar R$ 28,00 mais o valor do Sedex.
[Ouvindo: Whipping Boy - Ben Harper - Welcome To The Cruel World]
10 de dezembro de 2006
A primeira da temporada
Desde o outono não saía para velejar. Tentei por algumas vezes desde que o tempo começou a esquentar aqui por Florianópolis, mas sem sucesso. Hoje fui à forra. Com um ventinho bom de Nordeste, em torno de 10 nós com rajadas de 12 a 13 nós, fomos - o camarada Lauro Maeda e eu - em uma hora e meia até a Praia da Daniela, no Norte da Ilha. A marina onde guardo o Gostosa, meu Day Sailer II de 16 pés, fica em Santo Antônio de Lisboa. Até que fomos rápido.
Mas a volta, com o vento de popa e as velas em "asa de pombo", foi ainda mais rápida: meia hora. Surfávamos as ondas maiores, o que sempre é um pouco de adrenalina porque se perde momentaneamente o controle do barco. Voltamos a tempo de desmontar e guardar as tralhas ainda com sol. Logo depois, a chuva apareceu, tímida e perfeita para molhar velejadores bobos. Mas já não nos incomodava mais.
Mas a volta, com o vento de popa e as velas em "asa de pombo", foi ainda mais rápida: meia hora. Surfávamos as ondas maiores, o que sempre é um pouco de adrenalina porque se perde momentaneamente o controle do barco. Voltamos a tempo de desmontar e guardar as tralhas ainda com sol. Logo depois, a chuva apareceu, tímida e perfeita para molhar velejadores bobos. Mas já não nos incomodava mais.
[Ouvindo: Lugar Nenhum - Titãs - Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas]
7 de dezembro de 2006
Velhinhos conectados
Minha mãe e meu pai têm 59 e 64 anos, respectivamente. Pessoas dessa idade usualmente não são muito afeitas a tecnologia. Os dois não são exceção. Mas ainda assim, se viram. Têm computador em casa, banda larga e nesse mês ganharam uma webcam da minha prima. Ontem me diverti com os dois, vendo eles pela cam. Minha mãe levanta a cabeça e baixa os óculos para olhar para a tela. Já meu pai estava indignado com a qualidade da imagem. Achava tudo muito borrado e com cores estranhas. Mas já é alguma coisa os dois usarem o MSN, ainda por cima com uma webcam. Ambos gostaram da experiência e acho que desse jeito vamos diminuir as contas de telefone. A minha e a deles.
5 de dezembro de 2006
Descobri a Antártica
Para quem não sabe, eu velejo. Não corro regatas nem tenho um barco grande que se possa levar família e amigos para passear nas dezenas de ilhas que circundam a porção insular de Florianópolis. Mas, ainda assim, velejo. E só agora descobri Amyr Klink.
Nunca tinha lido um livro dele, até o amigo Carlito, do Bobagêra, me dar Mar Sem Fim de presente. Li num fôlego. Aí o grande Marcelinho, aquele Da Poltrona, me emprestou Paratii - Entre Dois Pólos. Levei um pouco mais de tempo, mas comi o livro.
O fato é que estou numa fase "aventuras no mar". Vou atrás das aventuras do Endurance, o navio que Shackleton usou para tentar chegar ao pólo (agora não lembro se o Sul o Norte). Já havia lido a Expedição Kon-Tiki, sobre uns malucos nórdicos que resolveram chegar numa ilhota do Pacífico usando uma jangada pré-histórica. E tinha gostado. Mas lendo sobre as velejadas de Klink, vi que aventuras não precisam ser tão ousadas.
Assim, tracei a minha "Antártica" para esse verão. Chama-se Governador Celso Ramos. Vou sair com meu veleirinho num dia de bom vento e seguir até a Fazenda da Armação. Não é longe, é bem tranquilo chegar lá. Mas é uma mudança de foco nas minhas velejadas. É um objetivo.
Aceito candidatos a proeiro.
Nunca tinha lido um livro dele, até o amigo Carlito, do Bobagêra, me dar Mar Sem Fim de presente. Li num fôlego. Aí o grande Marcelinho, aquele Da Poltrona, me emprestou Paratii - Entre Dois Pólos. Levei um pouco mais de tempo, mas comi o livro.
O fato é que estou numa fase "aventuras no mar". Vou atrás das aventuras do Endurance, o navio que Shackleton usou para tentar chegar ao pólo (agora não lembro se o Sul o Norte). Já havia lido a Expedição Kon-Tiki, sobre uns malucos nórdicos que resolveram chegar numa ilhota do Pacífico usando uma jangada pré-histórica. E tinha gostado. Mas lendo sobre as velejadas de Klink, vi que aventuras não precisam ser tão ousadas.
Assim, tracei a minha "Antártica" para esse verão. Chama-se Governador Celso Ramos. Vou sair com meu veleirinho num dia de bom vento e seguir até a Fazenda da Armação. Não é longe, é bem tranquilo chegar lá. Mas é uma mudança de foco nas minhas velejadas. É um objetivo.
Aceito candidatos a proeiro.
Sem compromisso
Nada de "que bom, o blog voltou", "ah, resolveu escrever" ou coisas do gênero. Não quero compromisso. Talvez passe mais seis meses sem dar as caras por aqui. Mas falei pelo MSN com o colega Carlito agora há pouco e deu na telha instalar o w.bloggar no notebook e escrever uma meia dúzia de obviedades sentado na cama e vendo tevê. Uma desgraça esse problema de concentração. Não fazer uma coisa por vez. E fazer tudo meia-boca.
1 de outubro de 2006
Declarando o voto
Acabei de teclar o 12 na urna eletrônica. Um pouco por desprezo à falta de idéias e ao arremedo de plano de governo que o principal candidato de oposição lançou à míseros 11 dias do pleito. Um pouco pelas alianças condenáveis desse mesmo candidato com coronéis atrasados politicamente e responsáveis pelo mesmo atraso desse nosso belo país. Por outro lado, teclei 12 um pouco também pela ojeriza à lambança administrativa do atual governo, pela incompetência em somar 4,5% mais 4,5% e pelo discurso vazio e despreparado do atual presidente.
Um, depois dois e firmei minha posição. Não por achar que as idéias ditas neo-liberais, a privatização e a responsabilidade fiscal foram erros dos oito anos de FHC no poder, nem por acreditar que o período lulista tenha sido tão pior. Não. Nem um nem outro. Dadas as condições de temperatura e pressão, suas alianças necessárias para governar, sua própria capacidade em enxergar além do próprio umbigo, eles não se saíram tão mal.
Não foi só por isso que digitei 12 agora há pouco, nessa tarde chuvosa na capital catarinense. Foi porque o monotema de Cristovam Buarque seria meu primeiro passo para tentar arrumar essa nação, caso fosse presidente. Não concordo com todas as idéias que o candidato do PDT tem para a área - acho-o por demais estatista -, mas ainda assim, acredito que educar é o único caminho. Outro dia conto sobre minhas idéias para essa área. Hoje não é dia de colocar opiniões valiosas ao sol: está chovendo.
Independente de quem ganhar, espero que ouça os conselhos do professor Buarque. E que os 3% ou 4% que ele alcançará sirvam para mandar um sinal ao vencedor: há gente no Brasil preocupada com educação.
Um, depois dois e firmei minha posição. Não por achar que as idéias ditas neo-liberais, a privatização e a responsabilidade fiscal foram erros dos oito anos de FHC no poder, nem por acreditar que o período lulista tenha sido tão pior. Não. Nem um nem outro. Dadas as condições de temperatura e pressão, suas alianças necessárias para governar, sua própria capacidade em enxergar além do próprio umbigo, eles não se saíram tão mal.
Não foi só por isso que digitei 12 agora há pouco, nessa tarde chuvosa na capital catarinense. Foi porque o monotema de Cristovam Buarque seria meu primeiro passo para tentar arrumar essa nação, caso fosse presidente. Não concordo com todas as idéias que o candidato do PDT tem para a área - acho-o por demais estatista -, mas ainda assim, acredito que educar é o único caminho. Outro dia conto sobre minhas idéias para essa área. Hoje não é dia de colocar opiniões valiosas ao sol: está chovendo.
Independente de quem ganhar, espero que ouça os conselhos do professor Buarque. E que os 3% ou 4% que ele alcançará sirvam para mandar um sinal ao vencedor: há gente no Brasil preocupada com educação.
[Ouvindo: California Sun - Ramones - Hey! Ho! Let's Go - Anthology (Disc 1)]
20 de setembro de 2006
Memorias
El cuarto se quedó sereno. Sin barullos ni lloros o sollozos. Solo la quietud. Yo podía escuchar el alma creciendo, la sangre cargando mis angustias, mis lágrimas que no salieron. Pasé los ojos por todo el cuarto y dijo adiós. Más no podía hacer.
Toda mí vida tendría las memorias de estos días. Toda mí vida me olvidaría de sus ojos, su pelo, su olor. Y mí olor sería su olor por dos o tres días. Solo quería que fuera más. Ahora, solo las memorias.
Pero mis memorias no serían más tus memorias. Ella me olvidaría. Pero yo no. No la olvidaría jamás. Por más que yo quisiera, no pudiera. Y yo quiero. Cuando envejecer, tendré la garantía que mi cerebro la olvidará.
Toda mí vida tendría las memorias de estos días. Toda mí vida me olvidaría de sus ojos, su pelo, su olor. Y mí olor sería su olor por dos o tres días. Solo quería que fuera más. Ahora, solo las memorias.
Pero mis memorias no serían más tus memorias. Ella me olvidaría. Pero yo no. No la olvidaría jamás. Por más que yo quisiera, no pudiera. Y yo quiero. Cuando envejecer, tendré la garantía que mi cerebro la olvidará.
[Ouvindo: Kiss To Build A Dream On - Louis Armstrong - All Time Greatest Hits]
10 de setembro de 2006
Um pouco de política
Política é assunto que evito nesse blog. Já preciso pensar muito nisso no trabalho, então tento desligar nas horas de lazer. E é isso que o blog é pra mim:lazer. Mas tem vezes que o cérebro insiste em pensar em eleição. Aí o melhor é não brigar com ele. Preciso demais do bichinho para me indispor de graça.
Pois meu cérebro pensou, dia desses, na bobagem que era a aposta de Luiz Gonzales, o marqueteiro de Alckmin, e dos cabeções da coligação PSDB-PFL. Eles acreditavam, ou pelo menos diziam que acreditavam, numa virada depois que o programa eleitoral gratuito fosse ao ar. Iriam tornar o tal Geraldo (quem?) conhecido, desconstruir o governo Lula (essa parte, colaboração das raposas pefelistas) e virar o jogo eleitoral, amplamente favorável ao indigitado que ocupa o Alvorada.
Pensando friamente, os escândalos envolvendo a petezada que se apoderou da máquina governamental não poderiam ganhar mais publicidade do que durante seu auge, na época do caseiro Francenido, da queda de Dirceu e Palocci, do mensalão. A imprensa toda, até a Globo, divulgou amplamente o rolo todo. E muito mais gente assiste aos telejornais nacionais das grandes redes do que aos programa eleitorais. O formato jornalístico é mais familiar, tem mais credibilidade. Programa eleitoral é pregação para o vazio, na maior parte dos lares brasileiros.
Por isso me custa a crer que profissionais de comunicação sérios e políticos matreiros e escolados realmente apostassem numa virada sustentada pelo programa eleitoral gratuito. Acho que jogavam para a torcida. Para não entregar os pontos.
Agora o tal Geraldo diz que nos últimos quinze dias é que a campanha começa pra valer. Só se for pra ele. FHC - aquele, vocês lembram - já entregou o jogo com uma cartinha. Até Jorge Bornhausen foi pego admitindo a vitória de Lula. Ao Globo, disse hoje que o PFL fará a maior bancada do Senado e a segunda será do PSDB. E em seguida emendou: "A oposição será maioria". Até o velho kaiser anda tomando lições de realismo.
Pois meu cérebro pensou, dia desses, na bobagem que era a aposta de Luiz Gonzales, o marqueteiro de Alckmin, e dos cabeções da coligação PSDB-PFL. Eles acreditavam, ou pelo menos diziam que acreditavam, numa virada depois que o programa eleitoral gratuito fosse ao ar. Iriam tornar o tal Geraldo (quem?) conhecido, desconstruir o governo Lula (essa parte, colaboração das raposas pefelistas) e virar o jogo eleitoral, amplamente favorável ao indigitado que ocupa o Alvorada.
Pensando friamente, os escândalos envolvendo a petezada que se apoderou da máquina governamental não poderiam ganhar mais publicidade do que durante seu auge, na época do caseiro Francenido, da queda de Dirceu e Palocci, do mensalão. A imprensa toda, até a Globo, divulgou amplamente o rolo todo. E muito mais gente assiste aos telejornais nacionais das grandes redes do que aos programa eleitorais. O formato jornalístico é mais familiar, tem mais credibilidade. Programa eleitoral é pregação para o vazio, na maior parte dos lares brasileiros.
Por isso me custa a crer que profissionais de comunicação sérios e políticos matreiros e escolados realmente apostassem numa virada sustentada pelo programa eleitoral gratuito. Acho que jogavam para a torcida. Para não entregar os pontos.
Agora o tal Geraldo diz que nos últimos quinze dias é que a campanha começa pra valer. Só se for pra ele. FHC - aquele, vocês lembram - já entregou o jogo com uma cartinha. Até Jorge Bornhausen foi pego admitindo a vitória de Lula. Ao Globo, disse hoje que o PFL fará a maior bancada do Senado e a segunda será do PSDB. E em seguida emendou: "A oposição será maioria". Até o velho kaiser anda tomando lições de realismo.
[Ouvindo: Won't Get Fooled Again - The Who - Who's Next Deluxe CD1]
3 de setembro de 2006
Luão
Porra, eu tô seco. Uma trepada, uma cana, uma briga com um playboyzinho, qualquer coisa pra me tirar desse tédio sem fim. Um nada a fazer, olhando o reflexo da lua no mar com um John Player Special entre o indicador e o médio da mão direita. Merda. Isso é viver numa prainha fodida dessas, sem nada pra fazer. Uns amigos imbecis, que só querem andar de carro pra cima e pra baixo. Acham que tão impressionando, os manés. Gastando gasolina com nada, borracha no asfalto, fumaça no ar. Puta que pariu, nem um baseado pra me acalmar. Uma merda.
Uma praia que não se acaba mais. Cinquenta quilômetros de água e areia pra cada lado. A única coisa interessante deve ser um casal ou outro trepando entre as dunas. Quem não tem carro se vira assim. E eu que nem carro nem mulher tenho? O máximo que posso fazer é tocar uma punheta nas dunas. Não deve ser a mesma coisa. Também, nem tô com vontade mesmo. Tô seco mesmo é por uma cana ou um baseado.
Nada de grana. Se pelo menos rolasse um troquinho, se o meu velho não fosse tão regulão. Liberasse umas notinhas pra eu comprar umas doses de vodca. Aí pintava alegria. Mangüaçado eu descolava uma briga com um mauricinho metido e pronto, ia-se o tédio pras cucuias. Ou melhor, descolava uma vadiazinha, caçadora de surfistas. Se não pra trepar, pelo menos pra dar uns malhos, uns chupões bem dados nos peitos. Já tava bom. Mas nessa praia de merda não rola nada pra mim. Que se fodam todos.
O negócio é ficar aqui, sentado, deixando a areia entrar bermuda e cueca adentro, a umidade da noite se depositando no cabelo enquanto a lua sobe e se despede do mar, roubando o reflexo que ela mesma deu às águas. Indo embora devagar. Um halo redondo e amarelado no céu, pintando o céu ao redor, iluminando a espuma das ondas. Brilho estranho, como se exposto à luz negra da boate.
Se pelo menos a música bate-estaca parasse já era um ganho. Mas não, ainda é cedo pra que o bando de idiotas pare de dançar e suar. Não tenho nem dinheiro pra entrar naquela porra. Não ia adiantar muito, mesmo. Sem dançar, com cara de otário, economizando os cigarros e encostado num canto. Não ia pegar ninguém. Sem uma vodcazinha não ia chegar em mulher nenhuma.
Aí é que tá: não sei se a cana faz eu ganhar coragem ou embebeda a parte do meu cérebro responsável pela noção do ridículo. Assim, sóbrio, eu acho que é a segunda opção. Meio alto eu chego em qualquer mulher gostosa. Não tem stress. Se levar um corte, sem problema. Não vou nem notar que é um corte. Toca pra frente e faz andar a fila. Se não pegar nem um dragão até o fim da noite, tudo bem. Pelo menos eu tomei um porrete de esquecer tudo. E cheguei numas gostosas. É algo pra contar depois.
Falar em gostosa, quem é essa caminhando nas dunas? Nunca vi essa guria aqui. Deve ser mais uma dessas gauchinhas que vem passar o final de semana com a prima e os tios. Tá sozinho. O que te parece? Que você tá sozinho. É, tô. Tá a fim de um gole? O que é? Cuba.
Como eu precisava daquela cuba. Preferia sem a Coca, mas já servia. Fiquei um pouco menos seco. Pode me dar um cigarro. Nada mais justo, já que eu quase matei tua cuba. Qual teu nome? Martina. Nome incomum, hein? Minha mãe quem escolheu; leu num livro, não lembro qual. Mas é legal. É, eu também gosto. O meu é Jonas. Tu mora aqui? Morar não moro, só passo o verão. Eu sou de Porto. Nem precisava dizer, tinha adivinhado pelo teu sotaque. Xarope, né? Eu até que gosto na voz das gurias, mas não suporto um cara falando assim. Brigado. De nada.
Se eu dissesse tudo o que poderia elogiar nela, ia esgotar o estoque de obrigados. Definitivamente seis pontos na escala "ão": pernão, peitão, bundão, bocão, cabelão, olhão. Verdes. Nunca tinha visto assim, tão de perto, uma gauchinha morena com olhos verdes. Ainda mais bonita e gostosa como essa. E dessa vez eu tava sóbrio. Não era o Drury's nem a Orloff que tavam projetando aquela imagem no meu cérebro como o reflexo que a lua projetava no mar. Luão, hein? É, precisava ter visto quando ainda tava pertinho do mar: um reflexo bonito pra caralho. Imagino. Assim, comigo deitado, você fica na frente da lua e também dá um efeito massa. É? Teu cabelo fica mais bonito, teu perfil, a cor da tua pele. Pára que eu fico envergonhada. Que é isso, vai dizer que nunca te disseram o quanto você é bonita?
A olhadinha pra baixo. Ah, essa olhadinha eu conheço. Se faz de tímida, mas tá acostumada. Só reage assim porque sabe que eu quero que reaja assim. Mulher gostosa é fogo. Sabe como manipular o cara. Mas nessa ela se fodeu. Eu sei o que tô fazendo. Por que você veio sentar aqui comigo? Tu tava aqui sozinho, fumando, longe das conversas e da música, sem bebida, sem nada. E daí? Pensei: taí um cara diferente, interessante. Agora passou a impressão, ou ainda tá achando interessante. Tô te achando um cara até mais interessante. Isso porque nem comecei a falar de filosofia, de marxismo e religião. Ainda bem. Não gosta de nada disso? Não é que não goste; só não entendo. Então não vou falar. Agora fui eu quem pareceu desinteressante, meio burrinha, né?
Ela havia se tornado interessante pra mim desde o momento em que sentou a bundinha linda na areia. Foi só passar o braço por trás dela que tava dada a deixa. Agora erámos nós e o luão já a meio céu. Eu tava bem menos seco do que no início da noite. Talvez a vida não fosse uma merda, a praia não fosse uma merda, dinheiro não fosse tudo e eu não precisasse de um carro, cana ou baseado pra dar uns malhos numa guria gostosa. Duvido, mas é melhor aproveitar a sorte.
Uma praia que não se acaba mais. Cinquenta quilômetros de água e areia pra cada lado. A única coisa interessante deve ser um casal ou outro trepando entre as dunas. Quem não tem carro se vira assim. E eu que nem carro nem mulher tenho? O máximo que posso fazer é tocar uma punheta nas dunas. Não deve ser a mesma coisa. Também, nem tô com vontade mesmo. Tô seco mesmo é por uma cana ou um baseado.
Nada de grana. Se pelo menos rolasse um troquinho, se o meu velho não fosse tão regulão. Liberasse umas notinhas pra eu comprar umas doses de vodca. Aí pintava alegria. Mangüaçado eu descolava uma briga com um mauricinho metido e pronto, ia-se o tédio pras cucuias. Ou melhor, descolava uma vadiazinha, caçadora de surfistas. Se não pra trepar, pelo menos pra dar uns malhos, uns chupões bem dados nos peitos. Já tava bom. Mas nessa praia de merda não rola nada pra mim. Que se fodam todos.
O negócio é ficar aqui, sentado, deixando a areia entrar bermuda e cueca adentro, a umidade da noite se depositando no cabelo enquanto a lua sobe e se despede do mar, roubando o reflexo que ela mesma deu às águas. Indo embora devagar. Um halo redondo e amarelado no céu, pintando o céu ao redor, iluminando a espuma das ondas. Brilho estranho, como se exposto à luz negra da boate.
Se pelo menos a música bate-estaca parasse já era um ganho. Mas não, ainda é cedo pra que o bando de idiotas pare de dançar e suar. Não tenho nem dinheiro pra entrar naquela porra. Não ia adiantar muito, mesmo. Sem dançar, com cara de otário, economizando os cigarros e encostado num canto. Não ia pegar ninguém. Sem uma vodcazinha não ia chegar em mulher nenhuma.
Aí é que tá: não sei se a cana faz eu ganhar coragem ou embebeda a parte do meu cérebro responsável pela noção do ridículo. Assim, sóbrio, eu acho que é a segunda opção. Meio alto eu chego em qualquer mulher gostosa. Não tem stress. Se levar um corte, sem problema. Não vou nem notar que é um corte. Toca pra frente e faz andar a fila. Se não pegar nem um dragão até o fim da noite, tudo bem. Pelo menos eu tomei um porrete de esquecer tudo. E cheguei numas gostosas. É algo pra contar depois.
Falar em gostosa, quem é essa caminhando nas dunas? Nunca vi essa guria aqui. Deve ser mais uma dessas gauchinhas que vem passar o final de semana com a prima e os tios. Tá sozinho. O que te parece? Que você tá sozinho. É, tô. Tá a fim de um gole? O que é? Cuba.
Como eu precisava daquela cuba. Preferia sem a Coca, mas já servia. Fiquei um pouco menos seco. Pode me dar um cigarro. Nada mais justo, já que eu quase matei tua cuba. Qual teu nome? Martina. Nome incomum, hein? Minha mãe quem escolheu; leu num livro, não lembro qual. Mas é legal. É, eu também gosto. O meu é Jonas. Tu mora aqui? Morar não moro, só passo o verão. Eu sou de Porto. Nem precisava dizer, tinha adivinhado pelo teu sotaque. Xarope, né? Eu até que gosto na voz das gurias, mas não suporto um cara falando assim. Brigado. De nada.
Se eu dissesse tudo o que poderia elogiar nela, ia esgotar o estoque de obrigados. Definitivamente seis pontos na escala "ão": pernão, peitão, bundão, bocão, cabelão, olhão. Verdes. Nunca tinha visto assim, tão de perto, uma gauchinha morena com olhos verdes. Ainda mais bonita e gostosa como essa. E dessa vez eu tava sóbrio. Não era o Drury's nem a Orloff que tavam projetando aquela imagem no meu cérebro como o reflexo que a lua projetava no mar. Luão, hein? É, precisava ter visto quando ainda tava pertinho do mar: um reflexo bonito pra caralho. Imagino. Assim, comigo deitado, você fica na frente da lua e também dá um efeito massa. É? Teu cabelo fica mais bonito, teu perfil, a cor da tua pele. Pára que eu fico envergonhada. Que é isso, vai dizer que nunca te disseram o quanto você é bonita?
A olhadinha pra baixo. Ah, essa olhadinha eu conheço. Se faz de tímida, mas tá acostumada. Só reage assim porque sabe que eu quero que reaja assim. Mulher gostosa é fogo. Sabe como manipular o cara. Mas nessa ela se fodeu. Eu sei o que tô fazendo. Por que você veio sentar aqui comigo? Tu tava aqui sozinho, fumando, longe das conversas e da música, sem bebida, sem nada. E daí? Pensei: taí um cara diferente, interessante. Agora passou a impressão, ou ainda tá achando interessante. Tô te achando um cara até mais interessante. Isso porque nem comecei a falar de filosofia, de marxismo e religião. Ainda bem. Não gosta de nada disso? Não é que não goste; só não entendo. Então não vou falar. Agora fui eu quem pareceu desinteressante, meio burrinha, né?
Ela havia se tornado interessante pra mim desde o momento em que sentou a bundinha linda na areia. Foi só passar o braço por trás dela que tava dada a deixa. Agora erámos nós e o luão já a meio céu. Eu tava bem menos seco do que no início da noite. Talvez a vida não fosse uma merda, a praia não fosse uma merda, dinheiro não fosse tudo e eu não precisasse de um carro, cana ou baseado pra dar uns malhos numa guria gostosa. Duvido, mas é melhor aproveitar a sorte.
[Ouvindo: Le Grand Tango - Yo-yo Ma - The Music Of Astor Piazzolla]
2 de setembro de 2006
Que semanas!
Ah, meus caros, foram três semanas daquelas. Viajei a trabalho ou estudo seguido. Pilhas de coisas por fazer se acumularam no meu e-mail (ninguém mais usa papel, não é verdade?) e corri como louco. Mas agora acalmou um pouco. Nesse final de semana dá até pra blogar.
Ficou mais fácil postar por aqui depois de eu conseguir uma cópia de um programinha que sou fã, o w.bloggar. Infelizmente, o site do desenvolvedor está fora do ar e não pude baixar o software de novo depois que troquei minha máquina. Mas consegui num CD de backup antigo uma versão que me serve bem. Uso-a para escrever agora.
Ficou mais fácil postar por aqui depois de eu conseguir uma cópia de um programinha que sou fã, o w.bloggar. Infelizmente, o site do desenvolvedor está fora do ar e não pude baixar o software de novo depois que troquei minha máquina. Mas consegui num CD de backup antigo uma versão que me serve bem. Uso-a para escrever agora.
[Ouvindo: Neighborhood #1 (Tunnels) - The Arcade Fire - Funeral]
3 de agosto de 2006
Brrrrrrrrrr
Ontem foi o segundo dia que dormi com o lençol térmico ligado a noite toda. Impressionante como esfriou. Até quinta-feira passada, eu pensava seriamente em velejar durante o final de semana. Mas no sábado já deu pra sentir que um respingo de água do mar com o ventinho que estava soprando ia gelar até os ossos. Que falta me faz um neoprene.
O frio aqui é tanto que eu, que nem gosto de sopa, tomei dois dias seguidos os caldinhos de pacote que a Lu adora fazer à noite. Bacon com ervas finas na terça e carne desfiada com batatas na quarta. E vinho, claro. Porque se há alguma vantagem no frio, é o vinho.
Essa semana, a vítima da minha sede é uma garrafa de Fortaleza do Seival Tannat 2004, presente do Carlito e da Cléia pelo meu aniversário. Bom vinho. Uma pena eu ter aberto ele agora - apressadinho, né? Pelo corpo e pelos taninos, era um vinho que podia crescer um pouco por pelo menos uns seis meses a um ano.
É o que estou fazendo com outra garrafa de Fortaleza do Seival que comprei em Bento Gonçalves. Vai ficar na adega por um ano ou dois, para ver o quanto evolui. É de um assemblage diferente que a Miolo começou a produzir não faz muito tempo. São castas portuguesas que os italianos começaram a plantar na campanha gaúcha e apostam que dá um bom vinho. Vamos ver. Conto pra vocês daqui a 18 ou 24 meses.
O frio aqui é tanto que eu, que nem gosto de sopa, tomei dois dias seguidos os caldinhos de pacote que a Lu adora fazer à noite. Bacon com ervas finas na terça e carne desfiada com batatas na quarta. E vinho, claro. Porque se há alguma vantagem no frio, é o vinho.
Essa semana, a vítima da minha sede é uma garrafa de Fortaleza do Seival Tannat 2004, presente do Carlito e da Cléia pelo meu aniversário. Bom vinho. Uma pena eu ter aberto ele agora - apressadinho, né? Pelo corpo e pelos taninos, era um vinho que podia crescer um pouco por pelo menos uns seis meses a um ano.
É o que estou fazendo com outra garrafa de Fortaleza do Seival que comprei em Bento Gonçalves. Vai ficar na adega por um ano ou dois, para ver o quanto evolui. É de um assemblage diferente que a Miolo começou a produzir não faz muito tempo. São castas portuguesas que os italianos começaram a plantar na campanha gaúcha e apostam que dá um bom vinho. Vamos ver. Conto pra vocês daqui a 18 ou 24 meses.
[Ouvindo: The Great Gig In The Sky - Pink Floyd - Dark Side Of The Moon]
26 de julho de 2006
Sadness
Less than a week and two funerals. The first one was of the grandfather of a good friend of mine and a colleague from work. The other one, was of the father of my boss, who I also consider a friend, and his brother, who works with us both. No an easy thing to do, go to funerals. People are crying, sad, desolated, hopeless, and I feel uncomfortable an lost. I simply don't know what to say. "Be strong", "tomorrow's another day", "Life goes on". I line up a lot of cliches and shoot them all at the mourning family.
Maybe that's because I don't recall very well of my own loving ones departures. My two grandfathers went when I was too young to understand the meaning of death. Of course I got sad, but I couldn't rationalize. When my grandmother - mother of my mother - died, it was quite different. I don't remember details of the funeral, or the burial, but the sadness of my mother is really vivid in my memories. She can't deal nice with death. Well, I guess no one does. But some keep living.
Somehow it's harder, I guess - I've never been dead, at least for as long as I can remember - for the ones who stay. They gotta do these mundane things, these day to day stuff that keeps the wheels in motion while the people they loved are dead and buried. Sad, but we will all go through this one day or another.
This may sound kinda egotistic, but it's just the opposite. I hope I die after my wife, my parents, my closest friends. I prefer to suffer than to make then suffer.
Sorry, my good readers, but I'm feeling sad today.
Maybe that's because I don't recall very well of my own loving ones departures. My two grandfathers went when I was too young to understand the meaning of death. Of course I got sad, but I couldn't rationalize. When my grandmother - mother of my mother - died, it was quite different. I don't remember details of the funeral, or the burial, but the sadness of my mother is really vivid in my memories. She can't deal nice with death. Well, I guess no one does. But some keep living.
Somehow it's harder, I guess - I've never been dead, at least for as long as I can remember - for the ones who stay. They gotta do these mundane things, these day to day stuff that keeps the wheels in motion while the people they loved are dead and buried. Sad, but we will all go through this one day or another.
This may sound kinda egotistic, but it's just the opposite. I hope I die after my wife, my parents, my closest friends. I prefer to suffer than to make then suffer.
Sorry, my good readers, but I'm feeling sad today.
[Ouvindo: Somebody To Love - Queen + George Michael - Greatest Hits III (Queen)]
18 de julho de 2006
A volta
Mal o pé direito tocara o solo de Bauru e já me preocupava com os 900 quilômetros que me separavam de minha casa. Quando o vendedor de automóveis me pegou com uma Saveiro prata na rodoviária, perguntei qual o melhor caminho. "Seguir até Ponta Grossa, no Paraná e de lá descer até Curitiba e Florianópolis". Já não seriam 900 quilômetros, mas apenas 835. Mas o carro continuava sendo um judiado Puma GTE 1976. Se a viagem já seria longa em qualquer automóvel moderno, eu ficava imaginando a aventura que seria num esportivo com motor de Brasília 1600 refrigerado a ar e suspensão por barras de torção. Tecnologia ultrapassada até mesmo para os anos 1970.
Quando vi o carrinho, estacionado em frente à loja em Bauru, torci para que estivesse tudo bem de mecânica. Desci da Saveiro e fui logo ver o carro. Dei uma volta e pude sentir que o bichinho andava bem. Tinha lá seus probleminhas: as portas estavam fora de esquadro; o painel estava bem furado, por chaves e instrumentos que não eram originais; a suspensão traseira precisava de uma regulagem no facão para ele "fechar as pernas"; o estofamento e a fibra estavam castigados pelo tempo e os instrumentos do painel se comportavam de maneira estranha. Podia continuar a lista por um bom tempo, mas acho que isso basta para dar uma idéia geral do carro.
Afinal, eu estava comprando um Puma para restaurar. O segundo modelo mais raro e valorizado de todos os mais de oito mil carros fabricados pela empresa desde sua criação nos anos 1960. O carrinho branco parado numa avenida movimentada de Bauru havia sido, um dia, um dos carros mais caros do Brasil. Os clientes pagavam até 50% de ágio para conseguir um Puma, nos anos 1970. A princípio, os conversíveis, fabricados a partir de 1971, eram os mais valorizados. Mas como eles foram se tornando muito mais comuns do que os fechados, acabaram desvalorizando ao longo do tempo.
Aqui, um parêntese sobre carros antigos. Como colecionar quadros ou esculturas, a atividade de colecionar automóveis exige um pouco de aposta e visão. Quando um merchand vê um pintor promissor, aposta que virará sucesso no futuro e compra alguns quadros seus quando ainda são baratos. O mesmo vale para os carros. Hoje, um Puma GTE "Tubarão" é apenas um carro velho para muitos. Mas eu aposto que em cinco ou dez anos, o valor desses carrinhos vai subir bastante. Além do prazer de ter um carro que acho dos mais bonitos já fabricados no Brasil, ainda estou fazendo um investimento. Aliás, agora já há veículos desses bastante valorizados. No Mercado Livre, um GTE 1975 completamente restaurado está custando R$ 19 mil. Devo gastar bem menos no meu "Tubarãozinho". Fecha parêntese.
Já acertando a papelada com os caras da loja, descobri que o carro estava razoavelmente bom de mecânica porque era de uso normal do antigo dono. Uma pena que ele, como boa parte dos donos de carros velhos no interior paulista, andava misturando um montão de álcool à gasolina. Fuleirex fuel. Os giclês dos dois carburadores do motor foram trocados para deixar entrar mais combustível. Mais uma coisa que eu teria que trocar. Tentei acertar tudo mais rápido possível. Não queria pegar estrada à noite. Aliás, os faróis e a bateria eles tiveram que arrumar minutos antes de eu sair.
Um funcionário da loja me acompanhou até a saída de Bauru e toquei ficha na estrada. O barulho do motor refrigerado a ar a menos de um metro das minhas costas prometia uma viagem longa e cansativa. Mas depois dos primeiro 50 quilômetros, eu já me acostumara. Estava, na verdade, curtindo o carrinho. Fazia quase dois anos que eu garimpava um Puma modelo Tubarão para comprar. Só encontrava carros muito baleados ou carros muito inteiros. Aí o abismo entre um e outro era o preço. Queria comprar um inteiro pelo preço de um baleado. Foi isso que me levou a Bauru.
Das 15h30min até às 18h40min de sexta-feira, viajei sem parar. Só fui dar um descanso para o corpo e para o carrinho em Ibaiti, no Norte do Paraná. Me hospedei num hotelzinho às margens da rodovia e caminhei um pouco pela cidade, para esticar as pernas. Se bem que num Puma se dirige o tempo todo com as pernas e os braços esticados.
Estrada de novo às 7h30min de sábado. Queria ver se fazia uma perna só até São José dos Pinhais até o meio-dia. Pelo ritmo, tudo levava a crer que conseguiria. Estava a menos de 10 quilômetros do cruzamento entre a BR-116, por onde trafegava, e a BR-376, que me levaria a Florianópolis. Foi aí que o motor engasgou, deu umas tossidas e perdeu potência. Uma olhada no hodômetro parcial deu o diagnóstico: falta de combustível. O marcador do tanque não estava funcionando e eu controlava a hora de abastece pela autonomia. Errei feio. Ainda bem que o antigo dono estava rodando no álcool. Um tanque para injeção de gasolina com o motor frio me salvou. Desmontei o reservatório e derramei mais ou menos um litro e meio de gasolina no tanque. Foi o suficiente para me levar ao posto mais próximo. Enchi com gasolina, almocei e parti de novo, agora disposto a parar apenas em Florianópolis.
Mas parei bem antes, dois quilômetros depois do posto. Ao encher o tanque apenas com gasolina, o carrinho teve síndrome de abstinência e parou. Estacionei sob uma árvore ao lado da rodovia e comecei a fuçar no motor. Esgotei o filtro de gasolina, testei a bomba, assoprei mangueiras pra lá e pra cá e nada. Até que um morador próximo me acudiu com o número de um socorro mecânico. Não deu 15 minutos e chegou o guincho. Com uma chave de boca e uma de fenda, ele mexeu no motor e fez o bichinho funcionar.
Estrada de novo e aí foi só uma perna tranquila, escutando AC-DC, Beatles, Nirvana e Foo Fighters no fone de ouvido. Agora, o carrinho que por tanto tempo eu quis repousa na minha garagem. E vai ficar por ali um bom tempo. Pelo menos até eu recuperar minha capacidade de investimento e começar a restaurá-lo como merece esse pequeno pedaço da história da indústria automobilística nacional.
Quando vi o carrinho, estacionado em frente à loja em Bauru, torci para que estivesse tudo bem de mecânica. Desci da Saveiro e fui logo ver o carro. Dei uma volta e pude sentir que o bichinho andava bem. Tinha lá seus probleminhas: as portas estavam fora de esquadro; o painel estava bem furado, por chaves e instrumentos que não eram originais; a suspensão traseira precisava de uma regulagem no facão para ele "fechar as pernas"; o estofamento e a fibra estavam castigados pelo tempo e os instrumentos do painel se comportavam de maneira estranha. Podia continuar a lista por um bom tempo, mas acho que isso basta para dar uma idéia geral do carro.
Afinal, eu estava comprando um Puma para restaurar. O segundo modelo mais raro e valorizado de todos os mais de oito mil carros fabricados pela empresa desde sua criação nos anos 1960. O carrinho branco parado numa avenida movimentada de Bauru havia sido, um dia, um dos carros mais caros do Brasil. Os clientes pagavam até 50% de ágio para conseguir um Puma, nos anos 1970. A princípio, os conversíveis, fabricados a partir de 1971, eram os mais valorizados. Mas como eles foram se tornando muito mais comuns do que os fechados, acabaram desvalorizando ao longo do tempo.
Aqui, um parêntese sobre carros antigos. Como colecionar quadros ou esculturas, a atividade de colecionar automóveis exige um pouco de aposta e visão. Quando um merchand vê um pintor promissor, aposta que virará sucesso no futuro e compra alguns quadros seus quando ainda são baratos. O mesmo vale para os carros. Hoje, um Puma GTE "Tubarão" é apenas um carro velho para muitos. Mas eu aposto que em cinco ou dez anos, o valor desses carrinhos vai subir bastante. Além do prazer de ter um carro que acho dos mais bonitos já fabricados no Brasil, ainda estou fazendo um investimento. Aliás, agora já há veículos desses bastante valorizados. No Mercado Livre, um GTE 1975 completamente restaurado está custando R$ 19 mil. Devo gastar bem menos no meu "Tubarãozinho". Fecha parêntese.
Já acertando a papelada com os caras da loja, descobri que o carro estava razoavelmente bom de mecânica porque era de uso normal do antigo dono. Uma pena que ele, como boa parte dos donos de carros velhos no interior paulista, andava misturando um montão de álcool à gasolina. Fuleirex fuel. Os giclês dos dois carburadores do motor foram trocados para deixar entrar mais combustível. Mais uma coisa que eu teria que trocar. Tentei acertar tudo mais rápido possível. Não queria pegar estrada à noite. Aliás, os faróis e a bateria eles tiveram que arrumar minutos antes de eu sair.
Um funcionário da loja me acompanhou até a saída de Bauru e toquei ficha na estrada. O barulho do motor refrigerado a ar a menos de um metro das minhas costas prometia uma viagem longa e cansativa. Mas depois dos primeiro 50 quilômetros, eu já me acostumara. Estava, na verdade, curtindo o carrinho. Fazia quase dois anos que eu garimpava um Puma modelo Tubarão para comprar. Só encontrava carros muito baleados ou carros muito inteiros. Aí o abismo entre um e outro era o preço. Queria comprar um inteiro pelo preço de um baleado. Foi isso que me levou a Bauru.
Das 15h30min até às 18h40min de sexta-feira, viajei sem parar. Só fui dar um descanso para o corpo e para o carrinho em Ibaiti, no Norte do Paraná. Me hospedei num hotelzinho às margens da rodovia e caminhei um pouco pela cidade, para esticar as pernas. Se bem que num Puma se dirige o tempo todo com as pernas e os braços esticados.
Estrada de novo às 7h30min de sábado. Queria ver se fazia uma perna só até São José dos Pinhais até o meio-dia. Pelo ritmo, tudo levava a crer que conseguiria. Estava a menos de 10 quilômetros do cruzamento entre a BR-116, por onde trafegava, e a BR-376, que me levaria a Florianópolis. Foi aí que o motor engasgou, deu umas tossidas e perdeu potência. Uma olhada no hodômetro parcial deu o diagnóstico: falta de combustível. O marcador do tanque não estava funcionando e eu controlava a hora de abastece pela autonomia. Errei feio. Ainda bem que o antigo dono estava rodando no álcool. Um tanque para injeção de gasolina com o motor frio me salvou. Desmontei o reservatório e derramei mais ou menos um litro e meio de gasolina no tanque. Foi o suficiente para me levar ao posto mais próximo. Enchi com gasolina, almocei e parti de novo, agora disposto a parar apenas em Florianópolis.
Mas parei bem antes, dois quilômetros depois do posto. Ao encher o tanque apenas com gasolina, o carrinho teve síndrome de abstinência e parou. Estacionei sob uma árvore ao lado da rodovia e comecei a fuçar no motor. Esgotei o filtro de gasolina, testei a bomba, assoprei mangueiras pra lá e pra cá e nada. Até que um morador próximo me acudiu com o número de um socorro mecânico. Não deu 15 minutos e chegou o guincho. Com uma chave de boca e uma de fenda, ele mexeu no motor e fez o bichinho funcionar.
Estrada de novo e aí foi só uma perna tranquila, escutando AC-DC, Beatles, Nirvana e Foo Fighters no fone de ouvido. Agora, o carrinho que por tanto tempo eu quis repousa na minha garagem. E vai ficar por ali um bom tempo. Pelo menos até eu recuperar minha capacidade de investimento e começar a restaurá-lo como merece esse pequeno pedaço da história da indústria automobilística nacional.
[Ouvindo: Piece Of My Heart - Janis Joplin - Janis Joplin's Greatest Hits]
16 de julho de 2006
Clima
Previsão correta, data errada: amanhã, segunda-feira, o clima em Florianópolis será ameno, com temperaturas entre 24 e 16 graus, vento moderado de noroeste a sudoeste e sol na maior parte do dia. Na segunda, quando o trabalho me impede de fazer programas mais agradáveis, dá um dia bom para velejar. E esse domingo vagabundo, de chuva, com tempo cinza e sem graça, foi mais um domingo sem mar. Paciência. Agora é esperar pelo final de semana que vem.
[Ouvindo: Like a Rolling Stone - Bob Dylan - Highway 61 Revisited]
14 de julho de 2006
A ida
A viagem prometia. Quase 900 quilômetros me separavam do destino e o ônibus que me levaria nesta primeira etapa até Londrina, Norte do Paraná, estava 20 minutos atrasado. Era confortável, reclinava bem os bancos e tinha motor silencioso, mas no quesito pontualidade, deixava muito a desejar. Quando saímos da rodoviária de Florianópolis, eu e mais uma vintena de passageiros, já eram quase nove horas da noite. A partida do ônibus estava marcada para oito e meia. Para completar, nem havíamos saído de Florianópolis e o motorista já parara duas vezes: uma para pegar encomendas e outra para sabe-se lá o quê.
Ainda não eram dez horas quando, finalmente, senti o asfalto da BR-101 sob as rodas. As cortinas fechadas e o fone nos ouvidos me embalavam junto com o balanço do veículo. Peguei no sono e só fui acordar em Joinville. Ainda havia muito chão pela frente.
A previsão de chegada em Londrina, ajustada em função do atraso, era para as seis da manhã do dia seguinte. Com alguma sorte, pegaria outro ônibus alguns minutos depois para o meu destino final, Bauru, no interior paulista. Fui acordando entre Joinville e Londrina, de quando em quando. Ia notando pequenas cidades, às vezes uma rodoviária bonita, noutras, só uma modesta parada.
Quando cheguei a Londrina, amanhecia. A cidade estava quieta e só se via vida na estação rodoviária. Sabia que chegara ao interior do Paraná pela cor do asfalto, pelas calçadas e pelo prefixo telefônico nas placas. Já não estava tão distante. Mal saí do ônibus e fui atrás da conexão para Bauru. Só às oito e meia da manhã. Mudei o plano: iria até Marília por uma empresa e de lá para Bauru.
Embarquei às seis e meia num ônibus vagabundo, barulhento e mal-cheiroso. Tasquei os fones no ouvido, um AC-DC bem alto no player do telefone e fiquei olhando a paisagem mudar. Os campos de cultivo de grãos do Paraná foram gradativamente dando lugar aos pomares paulistas. O vermelho nas margens do asfalto foi dando lugar a uma terra mais clara. Até a cor do próprio asfalto parece mimetizar com a terra. No norte do Paraná, as estradas são mais vermelhas do que pretas.
Marília, Giancarlo; Giancarlo, Marília. Fomos apresentados às nove horas, numa estação rodoviária que mais parecia um disco voador. Ônibus para Bauru às nove e meia. Ótimo, se não fosse o atraso do sistema de transporte interurbano, mais uma vez a me assombrar. Só saí dali faltando poucos minutos para as dez, mais uma vez num ônibus ruim e barulhento. Sacudindo como um saco de batatas, teria pelo menos duas horas de viagem pela frente.
Mas me escapara de uma boa: a mesma empresa enviou dois carros para o trajeto Marília-Bauru e num deles entrou um maluco de estrada. O rapaz, nem tão novo, de uns vinte e poucos anos, começou conversando bem alto com um senhor na fila. Depois, xingou a garota que pegava os bilhetes de vagabunda. Em seguida, disse que ela era muito bonita e querida. Andava descalço, de bermudas e camisa rasgada. Um personagem de Jack London. Talvez menos vagabundo, menos poético, menos marginal. E, definitiva diferença, andávamos em ônibus, não em vagões de trens de carga.
Longe do maluco, segui sacolejando rumo a Bauru. Olhando os pomares, as obras na estrada, lendo placas e orientações. Guardando informação e consultando o Guia Rodoviário Quatro Rodas de tempos em tempos. Os dados seriam úteis em breve, quando começasse a voltar a Florianópolis. Cheguei a Bauru ao meio-dia e de lá sairia dirigindo um Puma GTE 1976, branco, modelo tubarão, meu único companheiro pelos próximos dois dias na viagem de 835 quilômetros até minha casa.
Ainda não eram dez horas quando, finalmente, senti o asfalto da BR-101 sob as rodas. As cortinas fechadas e o fone nos ouvidos me embalavam junto com o balanço do veículo. Peguei no sono e só fui acordar em Joinville. Ainda havia muito chão pela frente.
A previsão de chegada em Londrina, ajustada em função do atraso, era para as seis da manhã do dia seguinte. Com alguma sorte, pegaria outro ônibus alguns minutos depois para o meu destino final, Bauru, no interior paulista. Fui acordando entre Joinville e Londrina, de quando em quando. Ia notando pequenas cidades, às vezes uma rodoviária bonita, noutras, só uma modesta parada.
Quando cheguei a Londrina, amanhecia. A cidade estava quieta e só se via vida na estação rodoviária. Sabia que chegara ao interior do Paraná pela cor do asfalto, pelas calçadas e pelo prefixo telefônico nas placas. Já não estava tão distante. Mal saí do ônibus e fui atrás da conexão para Bauru. Só às oito e meia da manhã. Mudei o plano: iria até Marília por uma empresa e de lá para Bauru.
Embarquei às seis e meia num ônibus vagabundo, barulhento e mal-cheiroso. Tasquei os fones no ouvido, um AC-DC bem alto no player do telefone e fiquei olhando a paisagem mudar. Os campos de cultivo de grãos do Paraná foram gradativamente dando lugar aos pomares paulistas. O vermelho nas margens do asfalto foi dando lugar a uma terra mais clara. Até a cor do próprio asfalto parece mimetizar com a terra. No norte do Paraná, as estradas são mais vermelhas do que pretas.
Marília, Giancarlo; Giancarlo, Marília. Fomos apresentados às nove horas, numa estação rodoviária que mais parecia um disco voador. Ônibus para Bauru às nove e meia. Ótimo, se não fosse o atraso do sistema de transporte interurbano, mais uma vez a me assombrar. Só saí dali faltando poucos minutos para as dez, mais uma vez num ônibus ruim e barulhento. Sacudindo como um saco de batatas, teria pelo menos duas horas de viagem pela frente.
Mas me escapara de uma boa: a mesma empresa enviou dois carros para o trajeto Marília-Bauru e num deles entrou um maluco de estrada. O rapaz, nem tão novo, de uns vinte e poucos anos, começou conversando bem alto com um senhor na fila. Depois, xingou a garota que pegava os bilhetes de vagabunda. Em seguida, disse que ela era muito bonita e querida. Andava descalço, de bermudas e camisa rasgada. Um personagem de Jack London. Talvez menos vagabundo, menos poético, menos marginal. E, definitiva diferença, andávamos em ônibus, não em vagões de trens de carga.
Longe do maluco, segui sacolejando rumo a Bauru. Olhando os pomares, as obras na estrada, lendo placas e orientações. Guardando informação e consultando o Guia Rodoviário Quatro Rodas de tempos em tempos. Os dados seriam úteis em breve, quando começasse a voltar a Florianópolis. Cheguei a Bauru ao meio-dia e de lá sairia dirigindo um Puma GTE 1976, branco, modelo tubarão, meu único companheiro pelos próximos dois dias na viagem de 835 quilômetros até minha casa.
[Ouvindo: Sheep - Pink Floyd - Animals]
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