20 de setembro de 2006

Memorias

El cuarto se quedó sereno. Sin barullos ni lloros o sollozos. Solo la quietud. Yo podía escuchar el alma creciendo, la sangre cargando mis angustias, mis lágrimas que no salieron. Pasé los ojos por todo el cuarto y dijo adiós. Más no podía hacer.

Toda mí vida tendría las memorias de estos días. Toda mí vida me olvidaría de sus ojos, su pelo, su olor. Y mí olor sería su olor por dos o tres días. Solo quería que fuera más. Ahora, solo las memorias.

Pero mis memorias no serían más tus memorias. Ella me olvidaría. Pero yo no. No la olvidaría jamás. Por más que yo quisiera, no pudiera. Y yo quiero. Cuando envejecer, tendré la garantía que mi cerebro la olvidará.

[Ouvindo: Kiss To Build A Dream On - Louis Armstrong - All Time Greatest Hits]

10 de setembro de 2006

Um pouco de política

Política é assunto que evito nesse blog. Já preciso pensar muito nisso no trabalho, então tento desligar nas horas de lazer. E é isso que o blog é pra mim:lazer. Mas tem vezes que o cérebro insiste em pensar em eleição. Aí o melhor é não brigar com ele. Preciso demais do bichinho para me indispor de graça.

Pois meu cérebro pensou, dia desses, na bobagem que era a aposta de Luiz Gonzales, o marqueteiro de Alckmin, e dos cabeções da coligação PSDB-PFL. Eles acreditavam, ou pelo menos diziam que acreditavam, numa virada depois que o programa eleitoral gratuito fosse ao ar. Iriam tornar o tal Geraldo (quem?) conhecido, desconstruir o governo Lula (essa parte, colaboração das raposas pefelistas) e virar o jogo eleitoral, amplamente favorável ao indigitado que ocupa o Alvorada.

Pensando friamente, os escândalos envolvendo a petezada que se apoderou da máquina governamental não poderiam ganhar mais publicidade do que durante seu auge, na época do caseiro Francenido, da queda de Dirceu e Palocci, do mensalão. A imprensa toda, até a Globo, divulgou amplamente o rolo todo. E muito mais gente assiste aos telejornais nacionais das grandes redes do que aos programa eleitorais. O formato jornalístico é mais familiar, tem mais credibilidade. Programa eleitoral é pregação para o vazio, na maior parte dos lares brasileiros.

Por isso me custa a crer que profissionais de comunicação sérios e políticos matreiros e escolados realmente apostassem numa virada sustentada pelo programa eleitoral gratuito. Acho que jogavam para a torcida. Para não entregar os pontos.

Agora o tal Geraldo diz que nos últimos quinze dias é que a campanha começa pra valer. Só se for pra ele. FHC - aquele, vocês lembram - já entregou o jogo com uma cartinha. Até Jorge Bornhausen foi pego admitindo a vitória de Lula. Ao Globo, disse hoje que o PFL fará a maior bancada do Senado e a segunda será do PSDB. E em seguida emendou: "A oposição será maioria". Até o velho kaiser anda tomando lições de realismo.

[Ouvindo: Won't Get Fooled Again - The Who - Who's Next Deluxe CD1]

3 de setembro de 2006

Luão

Porra, eu tô seco. Uma trepada, uma cana, uma briga com um playboyzinho, qualquer coisa pra me tirar desse tédio sem fim. Um nada a fazer, olhando o reflexo da lua no mar com um John Player Special entre o indicador e o médio da mão direita. Merda. Isso é viver numa prainha fodida dessas, sem nada pra fazer. Uns amigos imbecis, que só querem andar de carro pra cima e pra baixo. Acham que tão impressionando, os manés. Gastando gasolina com nada, borracha no asfalto, fumaça no ar. Puta que pariu, nem um baseado pra me acalmar. Uma merda.

Uma praia que não se acaba mais. Cinquenta quilômetros de água e areia pra cada lado. A única coisa interessante deve ser um casal ou outro trepando entre as dunas. Quem não tem carro se vira assim. E eu que nem carro nem mulher tenho? O máximo que posso fazer é tocar uma punheta nas dunas. Não deve ser a mesma coisa. Também, nem tô com vontade mesmo. Tô seco mesmo é por uma cana ou um baseado.

Nada de grana. Se pelo menos rolasse um troquinho, se o meu velho não fosse tão regulão. Liberasse umas notinhas pra eu comprar umas doses de vodca. Aí pintava alegria. Mangüaçado eu descolava uma briga com um mauricinho metido e pronto, ia-se o tédio pras cucuias. Ou melhor, descolava uma vadiazinha, caçadora de surfistas. Se não pra trepar, pelo menos pra dar uns malhos, uns chupões bem dados nos peitos. Já tava bom. Mas nessa praia de merda não rola nada pra mim. Que se fodam todos.

O negócio é ficar aqui, sentado, deixando a areia entrar bermuda e cueca adentro, a umidade da noite se depositando no cabelo enquanto a lua sobe e se despede do mar, roubando o reflexo que ela mesma deu às águas. Indo embora devagar. Um halo redondo e amarelado no céu, pintando o céu ao redor, iluminando a espuma das ondas. Brilho estranho, como se exposto à luz negra da boate.

Se pelo menos a música bate-estaca parasse já era um ganho. Mas não, ainda é cedo pra que o bando de idiotas pare de dançar e suar. Não tenho nem dinheiro pra entrar naquela porra. Não ia adiantar muito, mesmo. Sem dançar, com cara de otário, economizando os cigarros e encostado num canto. Não ia pegar ninguém. Sem uma vodcazinha não ia chegar em mulher nenhuma.

Aí é que tá: não sei se a cana faz eu ganhar coragem ou embebeda a parte do meu cérebro responsável pela noção do ridículo. Assim, sóbrio, eu acho que é a segunda opção. Meio alto eu chego em qualquer mulher gostosa. Não tem stress. Se levar um corte, sem problema. Não vou nem notar que é um corte. Toca pra frente e faz andar a fila. Se não pegar nem um dragão até o fim da noite, tudo bem. Pelo menos eu tomei um porrete de esquecer tudo. E cheguei numas gostosas. É algo pra contar depois.

Falar em gostosa, quem é essa caminhando nas dunas? Nunca vi essa guria aqui. Deve ser mais uma dessas gauchinhas que vem passar o final de semana com a prima e os tios. Tá sozinho. O que te parece? Que você tá sozinho. É, tô. Tá a fim de um gole? O que é? Cuba.

Como eu precisava daquela cuba. Preferia sem a Coca, mas já servia. Fiquei um pouco menos seco. Pode me dar um cigarro. Nada mais justo, já que eu quase matei tua cuba. Qual teu nome? Martina. Nome incomum, hein? Minha mãe quem escolheu; leu num livro, não lembro qual. Mas é legal. É, eu também gosto. O meu é Jonas. Tu mora aqui? Morar não moro, só passo o verão. Eu sou de Porto. Nem precisava dizer, tinha adivinhado pelo teu sotaque. Xarope, né? Eu até que gosto na voz das gurias, mas não suporto um cara falando assim. Brigado. De nada.

Se eu dissesse tudo o que poderia elogiar nela, ia esgotar o estoque de obrigados. Definitivamente seis pontos na escala "ão": pernão, peitão, bundão, bocão, cabelão, olhão. Verdes. Nunca tinha visto assim, tão de perto, uma gauchinha morena com olhos verdes. Ainda mais bonita e gostosa como essa. E dessa vez eu tava sóbrio. Não era o Drury's nem a Orloff que tavam projetando aquela imagem no meu cérebro como o reflexo que a lua projetava no mar. Luão, hein? É, precisava ter visto quando ainda tava pertinho do mar: um reflexo bonito pra caralho. Imagino. Assim, comigo deitado, você fica na frente da lua e também dá um efeito massa. É? Teu cabelo fica mais bonito, teu perfil, a cor da tua pele. Pára que eu fico envergonhada. Que é isso, vai dizer que nunca te disseram o quanto você é bonita?

A olhadinha pra baixo. Ah, essa olhadinha eu conheço. Se faz de tímida, mas tá acostumada. Só reage assim porque sabe que eu quero que reaja assim. Mulher gostosa é fogo. Sabe como manipular o cara. Mas nessa ela se fodeu. Eu sei o que tô fazendo. Por que você veio sentar aqui comigo? Tu tava aqui sozinho, fumando, longe das conversas e da música, sem bebida, sem nada. E daí? Pensei: taí um cara diferente, interessante. Agora passou a impressão, ou ainda tá achando interessante. Tô te achando um cara até mais interessante. Isso porque nem comecei a falar de filosofia, de marxismo e religião. Ainda bem. Não gosta de nada disso? Não é que não goste; só não entendo. Então não vou falar. Agora fui eu quem pareceu desinteressante, meio burrinha, né?

Ela havia se tornado interessante pra mim desde o momento em que sentou a bundinha linda na areia. Foi só passar o braço por trás dela que tava dada a deixa. Agora erámos nós e o luão já a meio céu. Eu tava bem menos seco do que no início da noite. Talvez a vida não fosse uma merda, a praia não fosse uma merda, dinheiro não fosse tudo e eu não precisasse de um carro, cana ou baseado pra dar uns malhos numa guria gostosa. Duvido, mas é melhor aproveitar a sorte.

[Ouvindo: Le Grand Tango - Yo-yo Ma - The Music Of Astor Piazzolla]

2 de setembro de 2006

Que semanas!

Ah, meus caros, foram três semanas daquelas. Viajei a trabalho ou estudo seguido. Pilhas de coisas por fazer se acumularam no meu e-mail (ninguém mais usa papel, não é verdade?) e corri como louco. Mas agora acalmou um pouco. Nesse final de semana dá até pra blogar.

Ficou mais fácil postar por aqui depois de eu conseguir uma cópia de um programinha que sou fã, o w.bloggar. Infelizmente, o site do desenvolvedor está fora do ar e não pude baixar o software de novo depois que troquei minha máquina. Mas consegui num CD de backup antigo uma versão que me serve bem. Uso-a para escrever agora.

[Ouvindo: Neighborhood #1 (Tunnels) - The Arcade Fire - Funeral]