2 de abril de 2008

No bar

– Olha só, eu não sou desses caras que se derretem por qualquer menina bonitinha.

– Tá bom, vou fazer de conta que acredito – respondeu Júnior, bebericando a Stella Artois gelada.

– Sério, cara! Comigo não tem isso de ficar olhando pros lados e procurando o peitinho mais bonito, a budinha mais redonda, os olhinhos mais azuis. Nina, nina, não, velho! Pra mim, a guria tem que ter substância.

– Tá bom, João. E você, claro, adivinha o quanto de "substância" ela tem, antes de chegar na menina – ironizou o amigo, fazendo o sinal de aspas no ar com os dedos.

– Ah, dá pra saber, sim. Aquela ali, por exemplo, é uma porta. Olha o jeito de ela rir com as amigas. E essas duas do lado, que se tratam de "miguxa". Puta que pariu, sair com uma "miguxa", nem pensar!

– Ih, cara, acho que a loirinha ouviu. Fala baixo, porra!

– Deixa quieto, tenho certeza que é uma dessas que confunde Stephen Hawing com Stephen King, que acha que Italo Calvino é espanhol para italiano careca.

– Não zoa com a gatinha, pô. É bem engraçadinha – retruca Júnior levantando a garrafa e sorrindo para a garota.

– Tu só quer saber de corpo, né? Tudo bem, tu é meio burrão mesmo.

– Pô, não precisa sacanear, cara! Tá, e aquela ali que tá olhando pra nós. Quer dizer, mais pra ti, pelo visto.

– Olha, parece que pode ser uma guria interessante – avalia João.

Ele levanta para ir ao banheiro e avaliar a situação. Na ida, dá um sorriso para a garota, linda nos seus 22 anos de idade. Morena com a pele branca e os olhos levemente esverdeados. Belo corpo, rosto bonito. Jeito meigo. "Dá pra chegar", raciocina João. E chega, na volta do banheiro.

– Oi, tudo bem?

– Tudo – responde a garota com um sorriso.

– Sou o João. Você?

– Adela.

– Nome incomum. Qual a origem?

– É o nome de uma santa da Romênia.

– Legal. Já esteve na Romênia? Ouvi dizer que Bucareste é muito bonita.

– Não, nunca. Nunca viajei para fora do Brasil.

– Se pudesse escolher um lugar para ir agora, para onde iria?

– Acho que Nova Iorque, sempre quis conhecer a Europa.

A frase doeu nos ouvidos de João. Ele fixou-se nos olhos esverdeados, avaliou o cabelo escuro, o rosto branco, os seios de 22 anos, a barriguinha lisa com um piercing dourado. Avaliou a situação e continuou batendo papo com Adela. Fazer o que. Ele era só discurso. Era homem e ponto final.

[Ouvindo: Southbound Again - Dire Straits - Dire Straits]

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