24 de março de 2008

Tem que ouvir: The Dark Side of the Moon

thedarksideofthemoon Meu primeiro disco do Pink Floyd foi o óbvio The Wall, comprado no Cine Foto Som Mazucco, uma loja de Araranguá em que meu pai tinha conta. Aos 14 anos eu descobri que bastava chegar lá, pegar um disco ou fita, dizer pra por na conta do seu João Proença e pronto. Comprei The Wall, The Final Cut, Led IV, um disco do RPM, um da Blitz e gravei algumas fitas. Claro que logo que a conta chegou nas mãos do meu pai, eu tomei uma baita bronca. Mas com a conta no Mazucco, consegui tomar contato com muita música boa.

The Dark Side of the Moon, o disco que eu considero o melhor do Pink Floyd e que faz hoje 35 anos de idade, eu só ganhei mais tarde, quando minha vó mandou escolher um disco de presente de aniversário na Hermes Macedo, a loja de departamentos que existia na época. Era meu terceiro do Pink Floyd. O quarto foi Ummagumma, também comprado na HM, e o quinto, Animals, trocado por um Kraftwerk que meu primo me deu.

O "disco do prisma", como The Dark... é mais conhecido, é praticamente unanimidade entre fãs do Floyd. Foi um dos primeiros álbuns temáticos que depois se tornaram a marca de qualquer banda de rock psicodélico que se preze. Lançado em 1973, os efeitos de relógios tocando, caixas registradoras, vozes entre as faixas, tudo contribuiu para que o disco se tornasse um marco do rock. As canções eram inovadoras, tinham letras inteligentes. A melhor definição dos britânicos, para mim, está em Time, a terceira faixa: "Hanging on in quiet desperation is the English way".

O set do álbum é:

  1. Speak to Me (Mason, Gilmour, Waters, Wright)
  2. Breathe (Mason, Gilmour, Waters, Wright)
  3. On the Run (Gilmour, Waters)
  4. Time (Gilmour, Waters, Wright, Mason)
  5. Breathe (Reprise) (Gilmour, Waters, Wright, Mason)
  6. The Great Gig in the Sky (Wright)
  7. Money (Waters)
  8. Us and Them (Wright, Waters)
  9. Any Colour You Like (Gilmour, Wright, Mason)
  10. Brain Damage (Waters)
  11. Eclipse (Waters)

Como baixista - ou pelo menos metido a baixista - acho a linha de baixo de Money uma das melhores e mais divertidas de tocar. O tempo é diferente e o baixo carrega a música toda, praticamente. Quando ouvir o álbum, vale prestar atenção nos vocais, sem letra, de The Great Gig in the Sky. Foram feitos pela cantora Clare Torry, convidada pelo produtor Alan Parsons para improvisar sobre a canção do tecladista Richard Wright. Ela achou que não ficou bom. Mas os membros da banda e o produtor discordaram, para nossa felicidade.

O link para baixar o álbum, via torrent:

The Dark Side of the Moon

[Ouvindo: Us And Them - Pink Floyd - Dark Side Of The Moon]

22 de março de 2008

"You underestimate the power of the dark side"

Dia 16 Lu e eu estivemos em São Paulo visitando a Exposição Star Wars Brasil, uma mostra de memorabilia dos seis filmes da série Guerra nas Estrelas. Obviamente, é coisa pra quem curte. É o nosso caso.

Entre as peças, havia a nave que Luke Skywalker usou para chegar ao planeta pantanoso em que conheceu o mestre Jedi Yoda. Impressionante como é fuleira. Toda mal ajambrada. Mas quando peguei a câmera para fazer uma foto e olhei no visor digital: o bagulho foi feito para aparecer bem nas câmeras, não ao vivo. Ao vivo é um monte de compensado, isopor, uns pedaços de engrenagens de motor. Na foto, é uma nave espacial rebelde.

Era a primeira peça da exposição e com "olhos de câmera" eu visitei o resto da mostra, no Porão das Artes do Ibirapuera. Maquetes, manequins com os trajes originais, bonecos de alienígenas, wookies e ewoks, modelos em escala e alguns em tamanho real. Tudo muito legal. Mas o que mais gostei foram os bonecos do R2D2 e do C3PO, junto com os storyboards originais de algumas cenas da série. Especialmente um da batalha entre Luke e Darth Vader, em O Império Contra-Ataca. Nas descrições das cenas, fala-se em "Laser Sword" (espada laser) e não em "Light Saber" (sabre de luz), como ficaram conhecidas as armas Jedi ao longo de toda a série.

Outro detalhe legal é o desenho original do C3PO, que lembrava muito mais o robô de Metrópolis, de Fritz Lang. A concepção original de R2D2 (ou Artoo, como estava referido em um dos storyboards) já ficou mais próxima da versão que todos conhecemos das telas.

[Ouvindo: Walkabout - Red Hot Chili Peppers - One Hot Minute]

20 de março de 2008

Os dias estão simplesmente lotados

O título eu emprestei de um livro de quadrinhos do Calvin, mas cai como uma luva para as últimas duas semanas. Desde o início de março, a correria é grande, tanto no trabalho quanto na vida pessoal.

De mais interessante, algumas peculiaridades da uma viagem a trabalho para São Paulo, a trabalheira que foi minha última estada em Curitiba - também a trabalho -, o passeio que Lu e eu fizemos a São Paulo para um casamento e para ver a Star Wars Expo Brasil e os perrengues que ando passando com o apartamento.

Como nos jornais de tevê, eu dei a escalada. Mais detalhes depois dos comerciais.

12 de março de 2008

Cão na madrugada

As pálpebras de João pesavam dois quilos cada. Cada olho tinha um metro cúbico de areia arranhando a córnea. A cada piscada, os olhos se fechavam mais e mais tempo. A madrugada não era mais sua amiga. Talvez fosse o tema do trabalho, chato e pouco desafiante. Talvez fosse apenas sono.

Mas um ruído diferente no corredor chamou a atenção e descarregou um pouco de adrenalina no corpo de João. Um barulho de patas de cão no piso de cerâmica. As unhas compridas de um animal. Mas João vivia sozinho, nem cachorro, nem filhos, nem esposa. Ele e a madrugada e só.

Uma virada cautelosa na cadeira de espaldar alto, olhos fixos na porta do escritório para o corredor. Nada. O mesmo silêncio de sempre no apartamento vazio.

João volta a se concentrar na conta caixa, da DRE, no balanço da empresa fictícia. Os resultados foram satisfatórios? A lucratividade atingiu as metas? Perguntas chatas com respostas chatas. E o ruído de patas novamente no corredor.

Agora a cadeira se vira de sopetão para João dar de cara com um cachorro. Um doberman preto, quieto, olhando para João. Olhos avermelhados na escuridão do corredor.

O que esse cão faz ali, como entrou, será feroz? As perguntas já não são tão chatas. São altamente relevantes para João, que busca e busca as respostas sem sucesso.

– Pode voltar a trabalhar, não quero atrapalhar – diz o cachorro, com voz tranquila, que não parecia combinar com o porte do animal.

Um cachorro que fala? É só o que faltava para João, sempre acompanhado nas madrugadas por alucinações, anjos e demônios. Estava velho demais para cães que falam. Continuou olhando o doberman.

– Está estranhando minha voz? Bastante singular, porque essa voz foi você quem me deu.

"É claro", pensa João. "O cachorro que fala e está no meu corredor não fala e nem está no meu corredor. Está na minha cabeça".

– Exatamente – retruca o bicho, como se lesse o pensamento de João.

– Você ouviu o que eu pensei? – pergunta João em voz alta. Alta demais para a madrugada.

– Eu sou o seu pensamento. Estou em seu pensamento. Eu sou. Eu existo.

"É só que me falta. Além de falante, o cachorro é metido a filósofo", racionaliza João.

– O filósofo é você. É você quem fala, quem arrasta as unhas no corredor escuro. É você que tem os olhos vermelhos na escuridão. Você é eu, e eu, você. E ambos somos. Só.

– Escuta aqui, Rex, vê se me deixa em paz, então. Preciso terminar isso aqui. Xô, vai embora! Passa!

– Não funciona assim. Eu sou fruto do seu pensamento. Das sinapses cansadas de pensar em gestão, em planejamento estratégico, em propostas comerciais e retornos financeiros. Eu sou o seu eu mais sincero, o seu quadrúpede interior. A besta que estava adormecida no fundo do cérebro e que saiu quando a mente ameaçou dormir de tanto tédio e sono.

– Tá, e como eu faço para você ir embora? – João perguntou.

– Você acorda e pronto.

Foi a senha para João notar o óculos torto caído sobre o teclado do computador, sentir a dor das teclas F6, F7 e F8 que marcavam sua testa, o torpor no braço que esticava-se sobre o mouse pad de forma pouco natural.

Levantou-se, foi ao banheiro e para a cama. E sonhou com números, com contas caixa, DREs e planilhas. E, pela manhã, entre uma colherada e outra de granola, disse a si mesmo que era bem melhor sonhar com cães filósofos.

[Ouvindo: Ya no hay héroes - Loquillo y Trogloditas - Tiempos Asesinos]

4 de março de 2008

Estilo alternativo

Olha só, quem diria, estou fazendo yoga. Comecei na semana passada e tive aula agora há pouco. É no trabalho mesmo, com incentivo da empresa. Estou achando interessante. Pelo menos me mexo um pouco, me estico pra lá e pra cá e paro uns minutos pra relaxar entre as obrigações de trabalho, MBA e família.

Meus colegas que já fizeram yoga disseram que o professor tem um estilo bem "yoga fitness", que não envolve a bobagêra de não comer carne, de ficar ouvindo música indiana ou as Enyas da vida. Teve uma aula que ele até mandou ver num jazz levinho.

Mas alternativo mesmo foi a minha visita à homepata da Luciana. Fiz algumas consultas com otorrinos e alergistas para ver se me livro de uma rinite que me incomoda horrores e não tive resultado. Aí, resolvi apelar.

Ela me preguntou de tudo. Problemas de saúde, se eu já fui sonâmbulo, se tenho bruxismo, qual minha comida preferida, o que eu não como de jeito nenhum e o mais estranho de tudo: se eu tinha medo de monstros ou fantasmas quando era criança.

"Não, não tinha mais do que qualquer outra criança. Mas tinha pavor de Jesus Cristo". Isso certamente intrigou a mulher, mas aí eu contei a história de quando era pequeno e da aparição de Cristo no sótão da minha avó. Ela deve ter achado estranho, mas também quem mandou perguntar uma coisa esquisita dessas.

[Ouvindo: Sysyphus Part Four - Pink Floyd - Ummagumma - Studio Disk]

3 de março de 2008

Jogo interessante

Estou no final do meu MBA em gestão empresarial na Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Rio de Janeiro, e esta última disciplina é disparada a mais interessante. Chama-se jogo de negócios. Funciona assim: a turma foi dividida em oito equipes, cada uma responsável por dirigir uma indústria de computadores na época da reserva de mercado (lembram, quando não podíamos importar computadores?).

Eu sou o presidente e diretor de produção da minha equipe. Estamos em quatro pessoas e tomamos as decisões sobre quanto produzir, quanto cobrar por cada produto, quanto investir em marketing e pesquisa, aumentar ou reduzir a capacidade da fábrica, contratar ou demitir funcionários, aumentar salários, conceder bônus ou participação nos lucros. Em suma, decidimos quase tudo o que envolve a administração de uma indústria.

A cada três ou quatro dias, nossas decisões são alimentadas num simulador da FGV. O simulador compara as equipes, define a demanda por computadores no mercado, quanto um produto ficou mais atrativo que o outro e dá os resultados. Começamos em último no primeiro mês. Fechamos o primeiro quadrimetres e estamos em quarto. Não considero um bom resultado, mas dá pra encarar.

Nosso principal problema é o lucro. Muito baixo ou negativo. Sinceramente, estou com problemas para controlar os custos de produção, o que afeta os resultados drasticamente. Quanto mais a nossa empresa vende, pior o prejuízo. Mas, tudo bem. Não quebrando antes do final da disciplina, tá bom. Até porque quem falir é reprovado. E já deixei duas cadeiras para trás. Não dá pra ficar mais uma.