26 de julho de 2006

Sadness

Less than a week and two funerals. The first one was of the grandfather of a good friend of mine and a colleague from work. The other one, was of the father of my boss, who I also consider a friend, and his brother, who works with us both. No an easy thing to do, go to funerals. People are crying, sad, desolated, hopeless, and I feel uncomfortable an lost. I simply don't know what to say. "Be strong", "tomorrow's another day", "Life goes on". I line up a lot of cliches and shoot them all at the mourning family.

Maybe that's because I don't recall very well of my own loving ones departures. My two grandfathers went when I was too young to understand the meaning of death. Of course I got sad, but I couldn't rationalize. When my grandmother - mother of my mother - died, it was quite different. I don't remember details of the funeral, or the burial, but the sadness of my mother is really vivid in my memories. She can't deal nice with death. Well, I guess no one does. But some keep living.

Somehow it's harder, I guess - I've never been dead, at least for as long as I can remember - for the ones who stay. They gotta do these mundane things, these day to day stuff that keeps the wheels in motion while the people they loved are dead and buried. Sad, but we will all go through this one day or another.

This may sound kinda egotistic, but it's just the opposite. I hope I die after my wife, my parents, my closest friends. I prefer to suffer than to make then suffer.

Sorry, my good readers, but I'm feeling sad today.

[Ouvindo: Somebody To Love - Queen + George Michael - Greatest Hits III (Queen)]

18 de julho de 2006

A volta

Mal o pé direito tocara o solo de Bauru e já me preocupava com os 900 quilômetros que me separavam de minha casa. Quando o vendedor de automóveis me pegou com uma Saveiro prata na rodoviária, perguntei qual o melhor caminho. "Seguir até Ponta Grossa, no Paraná e de lá descer até Curitiba e Florianópolis". Já não seriam 900 quilômetros, mas apenas 835. Mas o carro continuava sendo um judiado Puma GTE 1976. Se a viagem já seria longa em qualquer automóvel moderno, eu ficava imaginando a aventura que seria num esportivo com motor de Brasília 1600 refrigerado a ar e suspensão por barras de torção. Tecnologia ultrapassada até mesmo para os anos 1970.

Quando vi o carrinho, estacionado em frente à loja em Bauru, torci para que estivesse tudo bem de mecânica. Desci da Saveiro e fui logo ver o carro. Dei uma volta e pude sentir que o bichinho andava bem. Tinha lá seus probleminhas: as portas estavam fora de esquadro; o painel estava bem furado, por chaves e instrumentos que não eram originais; a suspensão traseira precisava de uma regulagem no facão para ele "fechar as pernas"; o estofamento e a fibra estavam castigados pelo tempo e os instrumentos do painel se comportavam de maneira estranha. Podia continuar a lista por um bom tempo, mas acho que isso basta para dar uma idéia geral do carro.

Afinal, eu estava comprando um Puma para restaurar. O segundo modelo mais raro e valorizado de todos os mais de oito mil carros fabricados pela empresa desde sua criação nos anos 1960. O carrinho branco parado numa avenida movimentada de Bauru havia sido, um dia, um dos carros mais caros do Brasil. Os clientes pagavam até 50% de ágio para conseguir um Puma, nos anos 1970. A princípio, os conversíveis, fabricados a partir de 1971, eram os mais valorizados. Mas como eles foram se tornando muito mais comuns do que os fechados, acabaram desvalorizando ao longo do tempo.

Aqui, um parêntese sobre carros antigos. Como colecionar quadros ou esculturas, a atividade de colecionar automóveis exige um pouco de aposta e visão. Quando um merchand vê um pintor promissor, aposta que virará sucesso no futuro e compra alguns quadros seus quando ainda são baratos. O mesmo vale para os carros. Hoje, um Puma GTE "Tubarão" é apenas um carro velho para muitos. Mas eu aposto que em cinco ou dez anos, o valor desses carrinhos vai subir bastante. Além do prazer de ter um carro que acho dos mais bonitos já fabricados no Brasil, ainda estou fazendo um investimento. Aliás, agora já há veículos desses bastante valorizados. No Mercado Livre, um GTE 1975 completamente restaurado está custando R$ 19 mil. Devo gastar bem menos no meu "Tubarãozinho". Fecha parêntese.

Já acertando a papelada com os caras da loja, descobri que o carro estava razoavelmente bom de mecânica porque era de uso normal do antigo dono. Uma pena que ele, como boa parte dos donos de carros velhos no interior paulista, andava misturando um montão de álcool à gasolina. Fuleirex fuel. Os giclês dos dois carburadores do motor foram trocados para deixar entrar mais combustível. Mais uma coisa que eu teria que trocar. Tentei acertar tudo mais rápido possível. Não queria pegar estrada à noite. Aliás, os faróis e a bateria eles tiveram que arrumar minutos antes de eu sair.

Um funcionário da loja me acompanhou até a saída de Bauru e toquei ficha na estrada. O barulho do motor refrigerado a ar a menos de um metro das minhas costas prometia uma viagem longa e cansativa. Mas depois dos primeiro 50 quilômetros, eu já me acostumara. Estava, na verdade, curtindo o carrinho. Fazia quase dois anos que eu garimpava um Puma modelo Tubarão para comprar. Só encontrava carros muito baleados ou carros muito inteiros. Aí o abismo entre um e outro era o preço. Queria comprar um inteiro pelo preço de um baleado. Foi isso que me levou a Bauru.

Das 15h30min até às 18h40min de sexta-feira, viajei sem parar. Só fui dar um descanso para o corpo e para o carrinho em Ibaiti, no Norte do Paraná. Me hospedei num hotelzinho às margens da rodovia e caminhei um pouco pela cidade, para esticar as pernas. Se bem que num Puma se dirige o tempo todo com as pernas e os braços esticados.

Estrada de novo às 7h30min de sábado. Queria ver se fazia uma perna só até São José dos Pinhais até o meio-dia. Pelo ritmo, tudo levava a crer que conseguiria. Estava a menos de 10 quilômetros do cruzamento entre a BR-116, por onde trafegava, e a BR-376, que me levaria a Florianópolis. Foi aí que o motor engasgou, deu umas tossidas e perdeu potência. Uma olhada no hodômetro parcial deu o diagnóstico: falta de combustível. O marcador do tanque não estava funcionando e eu controlava a hora de abastece pela autonomia. Errei feio. Ainda bem que o antigo dono estava rodando no álcool. Um tanque para injeção de gasolina com o motor frio me salvou. Desmontei o reservatório e derramei mais ou menos um litro e meio de gasolina no tanque. Foi o suficiente para me levar ao posto mais próximo. Enchi com gasolina, almocei e parti de novo, agora disposto a parar apenas em Florianópolis.

Mas parei bem antes, dois quilômetros depois do posto. Ao encher o tanque apenas com gasolina, o carrinho teve síndrome de abstinência e parou. Estacionei sob uma árvore ao lado da rodovia e comecei a fuçar no motor. Esgotei o filtro de gasolina, testei a bomba, assoprei mangueiras pra lá e pra cá e nada. Até que um morador próximo me acudiu com o número de um socorro mecânico. Não deu 15 minutos e chegou o guincho. Com uma chave de boca e uma de fenda, ele mexeu no motor e fez o bichinho funcionar.

Estrada de novo e aí foi só uma perna tranquila, escutando AC-DC, Beatles, Nirvana e Foo Fighters no fone de ouvido. Agora, o carrinho que por tanto tempo eu quis repousa na minha garagem. E vai ficar por ali um bom tempo. Pelo menos até eu recuperar minha capacidade de investimento e começar a restaurá-lo como merece esse pequeno pedaço da história da indústria automobilística nacional.

[Ouvindo: Piece Of My Heart - Janis Joplin - Janis Joplin's Greatest Hits]

16 de julho de 2006

Clima

Previsão correta, data errada: amanhã, segunda-feira, o clima em Florianópolis será ameno, com temperaturas entre 24 e 16 graus, vento moderado de noroeste a sudoeste e sol na maior parte do dia. Na segunda, quando o trabalho me impede de fazer programas mais agradáveis, dá um dia bom para velejar. E esse domingo vagabundo, de chuva, com tempo cinza e sem graça, foi mais um domingo sem mar. Paciência. Agora é esperar pelo final de semana que vem.

[Ouvindo: Like a Rolling Stone - Bob Dylan - Highway 61 Revisited]

14 de julho de 2006

A ida

A viagem prometia. Quase 900 quilômetros me separavam do destino e o ônibus que me levaria nesta primeira etapa até Londrina, Norte do Paraná, estava 20 minutos atrasado. Era confortável, reclinava bem os bancos e tinha motor silencioso, mas no quesito pontualidade, deixava muito a desejar. Quando saímos da rodoviária de Florianópolis, eu e mais uma vintena de passageiros, já eram quase nove horas da noite. A partida do ônibus estava marcada para oito e meia. Para completar, nem havíamos saído de Florianópolis e o motorista já parara duas vezes: uma para pegar encomendas e outra para sabe-se lá o quê.

Ainda não eram dez horas quando, finalmente, senti o asfalto da BR-101 sob as rodas. As cortinas fechadas e o fone nos ouvidos me embalavam junto com o balanço do veículo. Peguei no sono e só fui acordar em Joinville. Ainda havia muito chão pela frente.

A previsão de chegada em Londrina, ajustada em função do atraso, era para as seis da manhã do dia seguinte. Com alguma sorte, pegaria outro ônibus alguns minutos depois para o meu destino final, Bauru, no interior paulista. Fui acordando entre Joinville e Londrina, de quando em quando. Ia notando pequenas cidades, às vezes uma rodoviária bonita, noutras, só uma modesta parada.

Quando cheguei a Londrina, amanhecia. A cidade estava quieta e só se via vida na estação rodoviária. Sabia que chegara ao interior do Paraná pela cor do asfalto, pelas calçadas e pelo prefixo telefônico nas placas. Já não estava tão distante. Mal saí do ônibus e fui atrás da conexão para Bauru. Só às oito e meia da manhã. Mudei o plano: iria até Marília por uma empresa e de lá para Bauru.

Embarquei às seis e meia num ônibus vagabundo, barulhento e mal-cheiroso. Tasquei os fones no ouvido, um AC-DC bem alto no player do telefone e fiquei olhando a paisagem mudar. Os campos de cultivo de grãos do Paraná foram gradativamente dando lugar aos pomares paulistas. O vermelho nas margens do asfalto foi dando lugar a uma terra mais clara. Até a cor do próprio asfalto parece mimetizar com a terra. No norte do Paraná, as estradas são mais vermelhas do que pretas.

Marília, Giancarlo; Giancarlo, Marília. Fomos apresentados às nove horas, numa estação rodoviária que mais parecia um disco voador. Ônibus para Bauru às nove e meia. Ótimo, se não fosse o atraso do sistema de transporte interurbano, mais uma vez a me assombrar. Só saí dali faltando poucos minutos para as dez, mais uma vez num ônibus ruim e barulhento. Sacudindo como um saco de batatas, teria pelo menos duas horas de viagem pela frente.

Mas me escapara de uma boa: a mesma empresa enviou dois carros para o trajeto Marília-Bauru e num deles entrou um maluco de estrada. O rapaz, nem tão novo, de uns vinte e poucos anos, começou conversando bem alto com um senhor na fila. Depois, xingou a garota que pegava os bilhetes de vagabunda. Em seguida, disse que ela era muito bonita e querida. Andava descalço, de bermudas e camisa rasgada. Um personagem de Jack London. Talvez menos vagabundo, menos poético, menos marginal. E, definitiva diferença, andávamos em ônibus, não em vagões de trens de carga.

Longe do maluco, segui sacolejando rumo a Bauru. Olhando os pomares, as obras na estrada, lendo placas e orientações. Guardando informação e consultando o Guia Rodoviário Quatro Rodas de tempos em tempos. Os dados seriam úteis em breve, quando começasse a voltar a Florianópolis. Cheguei a Bauru ao meio-dia e de lá sairia dirigindo um Puma GTE 1976, branco, modelo tubarão, meu único companheiro pelos próximos dois dias na viagem de 835 quilômetros até minha casa.

[Ouvindo: Sheep - Pink Floyd - Animals]