Dizem que 38 não é uma idade, mas um calibre. Lageanos já têm fama de violentos e fãs de revólveres. Bem, quem me conhece sabe que esse lageano aqui é diferente. Eu arriscaria até dizer que sou esquisito. Fica pro julgamento de vocês.
Não podia deixar de postar hoje. O blog tá xoxo, paradão, ridiculamente abandonado. Mas ainda assim, tenho muito para contar. Sobre os planos de viagem para o fim do ano, sobre o andamento da restauração do Puma, sobre uma promoção e sobre meu desempenho nos campeonatos de sinuca e squash que disputei.
Poderia contar sobre isso, mas não vou. Melhor falar de algo diferente, esquisito. Sobre um garoto gordinho, que tinha dores de ouvido horríveis e uma tremenda prisão de ventre quando era pequeno. Sobre um garoto que logrou a própria avó quando a mãe pediu para ele levar empadas para ela. Sobre como essa criança de quatro ou cinco anos adorava sentar-se num banco de madeira ao lado do fogão à lenha e comer batatas fritas com chá de casca de laranja. Sobre como teve por um dia um gatinho filhote, que sumiu de maneira inexplicável.
Sobre como o garoto que tanto brincou com o gatinho também torturou um coelhinho branco que ganhou de páscoa. Daria para contar como esse garoto festejou, aos cinco anos, pulando na cama de seus avós maternos a chegada de um outro filhotinho, seu irmão mais novo e amigo para toda a vida.
De como esse garotinho chorou quando o fusca de seus pais derrapou numa curva e ameaçou cair num lago. Como, mais velho um pouco, se assustou ao ver estourar o pneu do TL que ia à frente da Brasília de seu pai e como ficou tranquilo quando pararam todos bem no acostamento.
Na puberdade, o menino gordinho ficou magro, muito magro. Implicavam com ele, zoavam com ele, meio nerd, meio CDF. Aos quinze, surpreendeu-se quando garotas começaram a notá-lo e lembra bem de como aproveitou o verão de 1986. De como sua mãe ameaçou desmaiar ao vê-lo pela primeira vez abraçado com uma namoradinha – Shirley, filha do delegado. De como saía a noite sem hora para voltar, bebia e fumava e fazia todas essas besteiras que os jovens fazem.
E de como quando veio morar em Florianópolis, conheceu uma menina que ele quis mais do que abraçar. Uma tal Luciana, que mudou o rumo da vida do jovem magrelo, narigudo e orelhudo que fazia engenharia elétrica e apresentava um programa de rock na rádio pirata da UFSC. De como ficaram juntos pela primeira vez numa festa no clube Penhasco. Um visual digno do romance dos dois.
Daria para contar como ele mudou a carreira acadêmica, meteu-se nas letras e não se reergueu mais até hoje. Depois, deu mais uma guinada e foi mexer com informação e estratégia, gestão e liderança. E promete que não pára por aí. Aliás, promete que não pára nunca. Que se for preciso, lhe parem. Porque aos 38 tem energia de 25, não pára de ler, de fazer planos e de sorrir. E quer continuar sendo assim, pra sempre.
Daria para contar tudo isso, mas que sentido há em escrever uma história que não tem fim? Um texto que termina em reticências, reticentemente? Não. Melhor deixar não dito e seguir a vida. O texto acaba. A vida? Sabe-se lá quando…