Ela sorria não sorrindo e ele brincava não brincando. Eram assim, meio-meio. Não sabiam ao certo o que estavam fazendo. Ele, jovem, até se entendia que não soubesse direito o que se passava. Já ela, vivida, casada, bem resolvida, estava perdida porque queria estar. Queria, a bem da verdade, se perder nele, em sua juventude.
Mas ele não queria tanto. Não era homem de ser perder por aí, especialmente por uma coroa. Enxuta, inteligente, charmosa, mas acima de tudo uma coroa. O lance dele era ser solteiro, jogar um charminho, brincar com elas como um gato brinca com novelos de lã.
Saíram para brincar um dia. Ela falou algo lisonjeiro e ele desviou.
- Tu é muito querida.
- Querida? Tu vive me dizendo isso. Eu sou mais que querida. Mereço mais, não acha?
- É um jeito de sair pela tangente, de contornar um elogio que não sei como reagir - desconversou, conversando.
- Você é mesmo meio esquivo.
- Esquivo como?
- Às vezes sento colada em você e nada. Nem um roçar mais malicioso, nada.
- Eu sei. Sou meio indelicado nesse ponto, não correspondo.
- É, tu tá é mandando uma mensagem pra mim: não flerta mais comigo, sua coroa.
- Não é isso. Nem considero flerte.
- Mas é.
A partir daí, o papo foi ficando mais sério. E ele se recusava a ceder. Ela, vivida, experiente, não entendia como é que poderia mandar sinais mais claros. E ele fazia que não entendia.
Para quem, como eu, olhava de fora, chegava a ser cômico. E um pouco triste. Fiquei um tempo acompanhando o desenrolar da situação, até que o bar foi enchendo, o barulho encobrindo as conversas e me restou apenas a linguagem corporal para acompanhar.
Ele se fazendo de difícil, ela não entendendo quão difícil era. Mas aparentemente, as coisas deram certo. Saíram juntos, meio abraçados - ela enlaçada nele, ele com as mãos nos bolsos. Sorrindo e comentando trivialidades ao passar pela minha mesa. Entraram no mesmo carro trazido pelo manobrista e partiram. Espero que para um final feliz, num motel qualquer numa rodovia próxima.