27 de abril de 2008

Odeio esse leão

Acabei de fazer a declaração do IR e pagar o imposto pela internet. Coisa irritante, você ver o quanto foi recolhido pelo governo ao longo do ano. O IR é mais nocivo para o próprio governo que os demais impostos. Dá a chance para o cidadão sentir o peso do estado nas costas, de uma vez só. Uns trocados no almoço, mais um pouco no supermercado, na bomba de combustível. Esses passam batidos, mas quando é de uma vez só, a gente fica muito puto.

26 de abril de 2008

A primeira a gente não esquece

Apesar de velejar desde 2003, só fui participar de minha primeira regata hoje. Mas, quem diria: fui o primeiro a chegar de volta na marina! Com motor, claro. O dia foi lindo, mas infelizmente sem vento. Tínhamos, os tripulantes do Gostosa e dos demais 22 barcos participantes, três horas e meia para completar o percurso. Ninguém conseguiu.

Alguns, seis se não me engano, até esperaram até o último momento para ligar os motores e voltar. Eu e Rafael, meu valoros proeiro, não tivemos tanta paciência. Após fazer papel de rolha no meio da Baía Norte por uma hora e meia, lançamos ferro, demos um mergulho e ligamos o motor para voltar à marina Santo Antônio e a um delicioso carreteiro, chope à vontade (para o Rafa) e coca-cola de graça (para mim).

Esse foi o 2º Passeio das Cracas que a marina Santo Antônio, onde deixo meu barco, promove. No ano passado, quem ganhou foi um colega de lá, Carlos, com um Day Sailer muito parecido com o Gostosa. Um pouco mais novo, mas tão competitivo quanto o meu barco. Por causa desse histórico, Rafa e eu estávamos empolgados para disputar. Mas o vento não ajudou.

[Ouvindo: Think For Yourself - The Beatles - Rubber Soul]

19 de abril de 2008

Best episode ever

Quem gosta de South Park - e até quem não gosta muito, mas curte uma piadinha bem feita - não pode deixar de assistir o último episódio exibido nesta semana nos EUA: Over Logging. É o sexto desta 12ª temporada.

A história começa com as famílias de South Park ficando sem internet. O desespero que toma conta da cidade é hilário. Exatamente o que acontece, guardadas as proporções, quando eu fico sem rede na empresa. Muito engraçado, com citações a filmes conhecidos, como Vinhas da Ira e Independence Day. Eu baixei via torrent do Mr. Twig.

[Ouvindo: Let's Go Crazy - Prince - The Very Best Of Prince]

8 de abril de 2008

Conto com instruções didáticas

"Puta que pariu" foi a primeira frase que veio à cabeça do autor para começar o conto. O importante é ganhar o leitor na primeira frase, com impacto. Então:

– Puta que pariu – exclamou com um sorriso o personagem de nome comum que é para o leitor se identificar mais fácil. João ainda era um gurizote, mas nunca tinha visto mulher tão linda. E ainda mais sorrindo pra ele.

João começou a derreter dentro da camiseta bege escrito "Ratos de Praia", uma marca de surf famosa na época, porque é importante ser preciso para  dar veracidade à história. Além disso, os pequenos detalhes ajudam a definir situação e tempo do conto. Com as costas já empapadas de suor, mais por causa do sorriso da morena alta, de olhos verdes e corpo perfeito do que pelo esforço de jogar pacau com Adroaldo, Lin e Sandro. O nome dos personagens secundários não é tão importante, mas também não precisa exagerar. Um nome estranho basta. O resto tem que ser verossímil.

O bolinho de fichas diminuía ao lado da mesa e nada dela ou da amiga se afastarem. João criou coragem e olhou para a garota, se esforçando para concentrar o foco no rosto, e não no decote ou na pele branca dos seios.

– Cansei de jogar. Vamos tomar um sorvete?

Ele mesmo ficou impressionado com a atitude e o autor também, embora soubesse que esses pequenos clímax são importantes para manter o leitor atento na história.

Mas atento mesmo estava João, mergulhando no verde dos olhos de Priscilla, assim com dois eles. Era de Florianópolis e estava na casa de parentes, passando duas semanas em Balneário Gaivota. Estava gostando, sim, mas o mar era muito bravo e ela pouco ia à praia, dados importantes para se definir a personalidade do personagem e que explicam um pouco o porquê da bancura da pele da garota. É parte do jogo de texto fazer o leitor entender por si as conexões entre uma parte e outra do conto.

– Durante o dia eu prefiro as praias de Floripa, mas a noite aqui é mais legal, mais tranquila – completou a garota, querendo parecer cosmopolita.

"Se ela tá querendo impressionar, é um bom sinal", pensou João, enquanto pagava as duas casquinhas de sorvete. Isso num tempo em que Balneário Gaivota não tinha brigas de rua, não sofria com gangues vindas da região metropolitana de Porto Alegre para atazanar os moradores. Era populada, basicamente, por gente que morava nas cidades próximas e isso já diz bastante sobre a diegese da história.

Os dois subiram a rua sem destino certo, tomando seu sorvete e conversando. Coisas bobas, que fazem todo o sentido quando se é adolescente. João, destro, terminou primeiro a casquinha de chocolate. A mão esquerda de Priscilla, nessa altura já chamada de Pri, deu bobeira e foi engolfada pela mão de João, sem resistência. Num momento assim é que o autor pensa: "Como é que eu termino essa merda de conto? Tenho que dar uma dica de como essa história acaba". Mas os três seguem em frente – João e Priscilla passeando e o autor escrevendo.

Já no final da rua, próximo do bar onde João e os amigos jogavam pacau até agora há pouco, seis parágrafos acima, os dois pararam como que combinados sobre o que fazer. Devagarinho foram aproximando os rostos e se beijaram de leve, nos lábios. Uma, duas, três vezes. Na quarta, as línguas se enrolaram, João sentindo o gelado do sorvete na boca de Priscilla. Encostaram em um muro qualquer e ficaram por ali mesmo por alguns minutos, até que a garota deu a deixa, que, no fundo no fundo, entrega o final do conto:

– Preciso ir pra casa. Minha tia deve estar esperando. Além disso, minha prima ficou sozinha no bar – disse Priscilla (o autor não esqueceu da personagem sem nome que acompanhava a protagonista e que ainda pode ter um papel importante).

– Vou te ver de novo?

– Claro, estou toda noite por aqui, até ir embora.

Priscilla se virou para encontrar a prima e João foi-se faceiro, orgulhoso de si mesmo, ao encontro dos amigos. Contou que ela era de Florianópolis, que era maravilhosa, tinha uns peitinhos lindos, uma bundinha firme, uma boca quente e beijava muito bem. Era perfeita e podia muito bem ser sua namorada. Quem sabe na noite seguinte.

Priscilla foi caminhando para casa da prima comentando a noite. Disse que João era desajeitado com as mãos, suarento, tinha o hálito meio esquisito e uns papos nada a ver.

– Saco, não posso mais vir para esse lado da praia ou esse chato vai grudar no meu pé – completou a menina, a título de estranhamento, que normalmente é o clímax de um conto, o ponto onde a história dá uma virada e surpreende o leitor. "Esse ficou fraco", pensa o autor. "Mas o leitor dará um desconto, afinal não é mole escrever um bom conto em menos de uma hora", completa, olhando para a morena de olhos verdes e pele branca que ressona suavemente ao seu lado na cama.

[Ouvindo: Royal Orleans - Led Zeppelin - Presence]

6 de abril de 2008

Viajandão

São Paulo seria uma excelente cidade se tivesse o trânsito de Jacinto Machado. Tenho ido bastante para lá - São Paulo, não Jacinto Machado. Desde o início de março foram três viagens para a maior cidade da América Latina. Uma trabalho e duas para passear.

Cheguei de Sampa agora há pouco, pela Varig. Desta vez, consegui comprar umas passagens baratinhas, 48 pilas, e fui para o aniversário da Fernanda, sobrinha mais nova da Lu. Fomos passear também, claro.

Na feirinha da Benedito Calixto, consegui comprar algo que eu ando atrás há um bom tempo: um Ray-Ban Bausch & Lomb estilo aviador com armação dourada, no desenho tradicional dos anos 1970. Achei um em bom estado e arrematei depois de pechinchar um pouco com o feirante. Vou levar amanhã na ótica para colocar lentes de grau e dar uma limpada geral na armação. Vamos ver como vai ficar o resultado final.

Passear em SP sempre é legal. Tem muita coisa para fazer e excelentes opções gastronômicas. Uma coisa que não contei ainda aqui foi a nossa visita - da Lu e minha - a uma lojinha na região dos Jardins em Sampa que se chama O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo. Pretensiosa, não? Eu também achei, mas o bolo é realmente muito bom. Recomendo uma passada. Fica na Oscar Freire, perto da Alameda Casa Branca. Fomos lá na outra vez que estivemos em São Paulo.

Desta vez, a pedida foi tomar um café na Vila Mariana, numa patisserie que se chama Delícias de Paris. Muito boa. Tão boa que exageramos um pouco no café no sábado e só fomos sentir fome à tarde. Eu almocei às 15 horas. A Lu só foi comer no aniversário da sobrinha.

O nome da patisserie lembra o de outra em Curitiba, também muito boa: Delícias da França. Há duas semanas estive na capital paranaense a trabalho e tive uma reunião ao lado da padaria. Infelizmente, não me dei conta antes, ou não teria tomado café no hotel.

Nesta viagem a Curitiba, passei um trabalho do cão. Dirigindo um Gol alugado, dei uma esbarrada de leve numa picape Corsa. Para o seguro da locadora valer, tive que fazer um boletim de ocorrência. Mas em Curitiba, acidentes sem vítima não são atendidos pela polícia. Eles não fazem o B.O. O motorista tem que ir ao batalhão de trânsito e registrar a ocorrência. O problema é que eu, meio perdido na cidade, tive que ir até o bairro Tarumã, sozinho e com pressa por causa de uma reunião. Trabalheira, mas que acabou não tendo outros desdobramentos. A locadora não me cobrou nada pelo conserto.

[Ouvindo: Sílvia - Camisa de Vênus - Viva]

2 de abril de 2008

No bar

– Olha só, eu não sou desses caras que se derretem por qualquer menina bonitinha.

– Tá bom, vou fazer de conta que acredito – respondeu Júnior, bebericando a Stella Artois gelada.

– Sério, cara! Comigo não tem isso de ficar olhando pros lados e procurando o peitinho mais bonito, a budinha mais redonda, os olhinhos mais azuis. Nina, nina, não, velho! Pra mim, a guria tem que ter substância.

– Tá bom, João. E você, claro, adivinha o quanto de "substância" ela tem, antes de chegar na menina – ironizou o amigo, fazendo o sinal de aspas no ar com os dedos.

– Ah, dá pra saber, sim. Aquela ali, por exemplo, é uma porta. Olha o jeito de ela rir com as amigas. E essas duas do lado, que se tratam de "miguxa". Puta que pariu, sair com uma "miguxa", nem pensar!

– Ih, cara, acho que a loirinha ouviu. Fala baixo, porra!

– Deixa quieto, tenho certeza que é uma dessas que confunde Stephen Hawing com Stephen King, que acha que Italo Calvino é espanhol para italiano careca.

– Não zoa com a gatinha, pô. É bem engraçadinha – retruca Júnior levantando a garrafa e sorrindo para a garota.

– Tu só quer saber de corpo, né? Tudo bem, tu é meio burrão mesmo.

– Pô, não precisa sacanear, cara! Tá, e aquela ali que tá olhando pra nós. Quer dizer, mais pra ti, pelo visto.

– Olha, parece que pode ser uma guria interessante – avalia João.

Ele levanta para ir ao banheiro e avaliar a situação. Na ida, dá um sorriso para a garota, linda nos seus 22 anos de idade. Morena com a pele branca e os olhos levemente esverdeados. Belo corpo, rosto bonito. Jeito meigo. "Dá pra chegar", raciocina João. E chega, na volta do banheiro.

– Oi, tudo bem?

– Tudo – responde a garota com um sorriso.

– Sou o João. Você?

– Adela.

– Nome incomum. Qual a origem?

– É o nome de uma santa da Romênia.

– Legal. Já esteve na Romênia? Ouvi dizer que Bucareste é muito bonita.

– Não, nunca. Nunca viajei para fora do Brasil.

– Se pudesse escolher um lugar para ir agora, para onde iria?

– Acho que Nova Iorque, sempre quis conhecer a Europa.

A frase doeu nos ouvidos de João. Ele fixou-se nos olhos esverdeados, avaliou o cabelo escuro, o rosto branco, os seios de 22 anos, a barriguinha lisa com um piercing dourado. Avaliou a situação e continuou batendo papo com Adela. Fazer o que. Ele era só discurso. Era homem e ponto final.

[Ouvindo: Southbound Again - Dire Straits - Dire Straits]